quinta-feira, setembro 28, 2006

Afonsinho

Quando eu era criança tinha um amigo, colega de classe, que se chamava Afonso. Como a professora fazia a chamada pelos nomes, era Afonso. Apenas anos depois ele se transformou em Afonsinho. Mas ele já me chamava de Paulinho. Fomos cada um para um lado, mas nos reencontramos na briga do vestibular e estudamos juntos novamente. Faculdade, e cada um para o seu lado mais uma vez. Muitos anos depois, cervejas, festas e nos reencontramos. E mais uma vez, cada um para o seu lado. Ele sempre para lados distintos. Não se casou como nós. Não teve filhos como nós. Foi para o seu lado.
Quando éramos crianças, às vezes ia na casa dele, um apartamento grande, com bancadas de granito que me faziam reparar com atenção naquelas pedras diferentes, polidas, brilhantes. Um dia ele me convidou para ir ao aniversário dele. Aceitei, mas fiquei sem jeito. Ele morava num edifício, que aparentava um certo tom de exclusividade, numa avenida que na época ainda era calma e nobre, sem o trânsito feérico de hoje. Então, chamei meu primo Júnior e fomos à festa, num terraço na cobertura.
Por e-mail, Júnior me fala que o Afonsinho (aquele que nós fomos no aniversário dele, no terraço do prédio da João Pinheiro) estava jogando tênis hoje pela manhã, teve um infarto fulminante e morreu. Tinha 45 anos, muitas idéias na cabeça e muito cigarro nos pulmões. Na verdade, da última vez que o vi ele não fumava cigarros. Devorava-os. Seu coração não agüentou a convivência com eles. Mesmo com tantas lembranças do Afonsinho, o aniversário no terraço acaba ficando. Ficou para o Júnior e acabará ficando para mim.

quarta-feira, setembro 27, 2006

Mudar dói

Nesta época de eleição, de denúncias de corrupção, de revistas e jornais sensacionalistas, sempre se fala em mudanças. Mudar os políticos, mudar a cara do país. Enfim, mudar a cultura de um povo. Mas é só ir de casa para o trabalho, ter que se submeter ao trânsito das ruas que se percebe que as mesmas pessoas que falam em valores, em ética na política, em mudanças são aquelas que interrompem um cruzamento. São as mesmas que fecham o lado esquerdo da pista para serem os primeiros a virarem a esquina, dirigem como se ruas e avenidas fossem os corredores de suas casas.

Fora dali não é diferente. Na primeira possibilidade, furam uma fila. “Cafezinho” para um guarda rodoviário. Pequenas fraudes contra a seguradora do carro. Vantagens.

Sempre é mais fácil mudar o outro. Mudar a si mesmo dói.

sábado, setembro 16, 2006

Jornalismo preguiçoso

Grassa no Brasil a praga do jornalismo preguiçoso. Textos com coisas do tipo “Fulano teria recebido propina de tal empresa” aparecem na imprensa como se tudo fosse assim mesmo: uma fofoca. É a preguiça de fazer um trabalho bem feito, é a disposição de fazer muita coisa em pouco tempo em prol de várias reportagens, de fazer elevar as vendas destas revistinhas semanais do País, revistinhas que décadas atrás eram excelentes e agora só pensam em papel impresso rendendo lucros.
Mas aí, um destes jornalistas preguiçosos cruzou o caminho do Rodrigo Amarante, do Los Hermanos e tomou uma “traulitada” que está até hoje procurando o caminho de casa... Clique aqui para assistir.

Onda

A internet apenas engatinha, mas alguns fenômenos de vez em quando surpreendem. O Orkut foi um deles, onde o Brasil domina mais de 70% em número de contas. Teve muita gente que se encontrou ali, mas também tem pessoas que o utilizam por outros motivos menos nobres. Inclusive virou foco do Ministério Público, que ainda não sabe que os bancos de dados não precisam estar no local que são utilizados e processam o Google em busca de usuários não tão bonzinhos.
Mas outro que vem agitando é o You Tube. Sua capacidade de fazer circular vídeos dos mais diferentes tipos permite que qualquer um mostre para o mundo um pouco de si. Num vídeo, uma japonesinha tirou fotos todos os dias de seu rosto desde 2001, se não me engano, e montou-as em forma de vídeo. Um pedaço da vida dela ali, para todo mundo ver.