terça-feira, março 30, 2010

Não canto porque sonho

Não canto porque sonho.
Canto porque és real.
Canto o teu olhar maduro,
o teu sorriso puro,
a tua graça animal.

Canto porque sou homem.
Se não cantasse seria
o mesmo bicho sadio
embriagado na alegria
da tua vinha sem vinho.

Canto porque o amor apetece.
Porque o feno amadurece
nos teus braços deslumbrados.
Porque o meu corpo estremece
por vê-los nus e suados.

Eugénio de Andrade

domingo, março 28, 2010

Quem ama inventa

Quem ama inventa as coisas a que ama…
Talvez chegaste quando eu te sonhava.
Então de súbito acendeu-se a chama!
Era a brasa dormida que acordava…

E era um revôo sobre a ruinaria,
No ar atônito bimbalhavam sinos,
Tangidos por uns anjos peregrinos
Cujo dom é fazer ressurreições…

Um ritmo divino? Oh! Simplesmente
O palpitar de nossos corações
Batendo juntos e festivamente,
Ou sozinhos, num ritmo tristonho…

Ó! meu pobre, meu grande amor distante,
Nem sabes tu o bem que faz à gente
Haver sonhado… e ter vivido o sonho!

Mario Quintana

Esse é o nosso mundo

Muitos de nós, da minha idade ou mais novos, muitos muito mais novos ainda viram suas almas cresceram com as músicas do Legião. As letras, principalmente as letras, traduziam o que sentíamos.

Renato Russo teria também feito cinquenta anos e suas letras ainda estão próprias pra quem tem cinquenta ou quinze ou vinte e cinco. Elas falam coisas que queremos dizer ou sentimos sem querer dizer. E continuam a falar. Como nesta música, neste trecho que diz que "esperamos que um dia nossas vidas possam se encontrar". A gente ouve novamente e acaba por tecer a esperança descrita no verso.



Sempre precisei
De um pouco de atenção
Acho que não sei quem sou
Só sei do que não gosto
Nesses dias tão estranhos
Fica a poeira se escondendo pelos cantos

Esse é o nosso mundo
O que é demais nunca é o bastante
A primeira vez
Sempre a última chance
Ninguém vê onde chegamos
Os assassinos estão livres
Nós não estamos

Vamos sair
Mas não temos mais dinheiro
Os meus amigos todos estão
Procurando emprego
Voltamos a viver
Como há dez anos atrás
E a cada hora que passa envelhecemos dez semanas
Vamos lá tudo bem
Eu só quero me divertir
Esquecer desta noite
Ter um lugar legal pra ir
Já entregamos o alvo e a artilharia
Comparamos nossas vidas
Esperamos que um dia nossas vidas possam se encontrar

Quando me vi tendo de viver
Comigo apenas e com o mundo
Você me veio como um sonho bom
E me assustei
Não sou perfeito
Eu não esqueço
A riqueza que nós temos
Ninguém consegue perceber
E de pensar nisso tudo
Eu, homem feito
Tive medo e não consegui dormir
Vamos sair
Mas estamos sem dinheiro
Os meus amigos todos estão
Procurando emprego
Voltamos a viver
Como há dez anos atrás
E a cada hora que passa envelhecemos dez semanas
Vamos lá tudo bem
Eu só quero me divertir
Esquecer desta noite
Ter um lugar legal pra ir
Já entregamos o alvo e a artilharia
Comparamos nossas vidas
E mesmo assim
Não tenho pena de ninguém.

Planejar antes de executar

Na aula deste sábado do MBA da ESAMC falei sobre PDCA e DMAIC. Falei sobre a importância de planejar antes de executar. Aí agora à noite entro no site da Alê Mazzariolli, minha ex aluna de MBA, e dou de cara com um post sobre o assunto, mas voltado à área de Publicidade, falando sobre criativiadde. No entanto, dá pra pensar também em Gestão de Operações, que é o tema que tento passar (com muita dificuldade, devido aos meus parcos conhecimentos no assunto) aos meus ouvintes destas manhãs de sábado.

Rethink Scholarship at Langara 2010 Call for Entries from Rory O'Sullivan and Simon Bruyn on Vimeo.



Pendular

Galileu Galilei era menino ainda e ao ivés de prestar atenção à missa, ficava de olho no movimento pendular que o imenso candelabro-lustre da igreja fazia. Foi ali que ele percebeu que a frequência do pêndulo variava conforme seu movimento se reduzia, mas o período era sempre o mesmo. Ou seja, o tempo que levava para percorrer o espaço de um extremo ao outro do movimento era (e é) sempre o mesmo.

Tom Shannon é um artista que fez algo interessante a esse respeito. Misturou Física a Arte usando um pêndulo para pintar uma obra em que o caos e o controle se juntam, como cita o Gizmodo.

O que diria Galileu?


quinta-feira, março 25, 2010

Ausência

Por muito tempo achei que ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.

A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, esta ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade


domingo, março 21, 2010

sexta-feira, março 19, 2010

George

Meu primo Júnior é um sábio. E como qualquer um deles, sabe distinguir o que é bom do que é mais ou menos. Júnior sempre olhou (e ouviu) George Harrison com a sensibilidade dos sábios. Ele comprou o álbum All things must pass, um triplo que custou uma nota (muitos anos depois, virou um CD duplo), gravou o vinil em cassete e manteve a peça rara quase num cofre. Não num cofre de ferro fundido, mas num cofre-cuore.

Agora ele me passa esse texto extraído do blog O Baú do Edu, que reproduzo aqui. Ao ler o texto, quase vi George e sua postura que sempre teve. O tímido dos Beatles, o cara que preocupou com seu espírito, um cara de uma alma tão grande que a fazia transbordar por quem quer que a tocasse.

Júnior Degani não é tímido como George. Mas eles se parecem muito.




George planejou com calma e serenidade cada dia até sua morte. Longe da ribalta, discretamente, como era sua filosofia de vida, não permitindo a invasão da sua privacidade e da sua família. Apenas três pessoas sabiam onde e como George Harrison iria morrer: a mulher, Olivia, e o amigo, Gavin De Becker, que se encarregou de cuidar de tudo. Nem o filho, Dhani, sabia onde o pai iria morrer. Tudo foi combinado meticulosamente entre George Harrison e Gavin De Becker, do médico que passaria a certidão de óbito à capela onde seria cremado.

No dia 17 de Novembro, sabendo que o fim estava próximo, George mandou chamar a irmã e os amigos de sempre Paul McCartney e Ringo Starr. Para um Paul McCartney emocionado e com o rosto cheio de lágrimas disse: “ja não estarei aqui no natal”. Ringo disse que ficaria com ele até o fim e que cancelaria uma excursão marcada para o Canadá. George não permitiu dizendo-lhe que estava em paz.

Sem publicidade, no dia 17 de Novembro, George Harrison foi levado no jato particular de Gavin De Becker para Santa Monica, California, tendo depois sido transportado de ambulância descaracterizada até ao UCLA Medical Centre, em Los Angeles.No dia 20, o estado de George deteriorou-se e ele foi transferido para a casa de Gavin De Becker, em Beverly Hills, onde ficou isolado. A única visita exterior permitida foi a de Ravi Shankar.

A morte viria a ocorrer às 13h30 da quinta-feira, 29 de Novembro. Além da família, dois dos seus melhores amigos indianos, Shayam Sundara e Mukunda, entoaram cânticos Hare Krishna, enquanto o George desfalecia. O corpo de George Harrison foi cremado às 06h30 do dia 30 de Novembro. As cinzas seguiram na segunda-feira, 03 de Dezembro, para a Índia onde foram espalhadas num rio sagrado, provavelmente o Yamuna.




terça-feira, março 16, 2010

Canção

Não te fies do tempo nem da eternidade,
que as nuvens me puxam pelos vestidos
que os ventos me arrastam contra o meu desejo!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,

que amanhã morro e não te vejo!
Não demores tão longe, em lugar tão secreto,
nácar de silêncio que o mar comprime,
o lábio, limite do instante absoluto!

Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te escuto!
Aparece-me agora, que ainda reconheço
a anêmona aberta na tua face

e em redor dos muros o vento inimigo…
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te digo…

Cecília Meireles

domingo, março 14, 2010

O amor

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.

Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma cousa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.

Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.

Fernando Pessoa

quinta-feira, março 11, 2010

Dos nossos males

A nós bastem nossos próprios ais,
Que a ninguém sua cruz é pequenina.
Por pior que seja a situação da China,
Os nossos calos doem muito mais…

Mário Quintana

quarta-feira, março 10, 2010

Eclipses

Eclipses são lindos. Sempre quando eles acontecem, algo além deles próprios se apresenta como uma consequência de toda a beleza que eles emanaram. Eclipses são singulares. Sempre quando eles acontecem, algo diferente, que traz esperança, parece que está por acontecer. Eclipses são eventos que o Sol e a Lua se mostram em sintonia. Como se fossem feitos um para o outro. Eclipses sempre ficam na memória do cérebro, na memória dos olhos, na memória da alma.