domingo, maio 31, 2009

Um Cego

Um Cego

Não sei qual é a face que me mira
quando miro essa face que há no espelho;
e desconheço no reflexo o velho
que o escruta, com silente e exausta ira.

Lento na sombra, com a mão exploro
meus traços invisíveis. Um lampejo
me alcança. O seu cabelo, que entrevejo,
é todo cinza ou é ainda de ouro.

Repito que perdi unicamente
a superfície vã das simples coisas.
Meu consolo é de Milton e é valente,

porém penso nas letras e nas rosas.
Penso que se pudesse ver meu rosto
saberia quem sou neste sol-posto.

Jorge Luis Borges

terça-feira, maio 26, 2009

domingo, maio 24, 2009

Sem título

Palavras que saem da boca
E tropeçam em ouvidos
Tropeçam em outras vozes
Despencam no ar e escapam
No vento
Sem que se dê tempo
De cair na terra
E nascer de novo

domingo, maio 17, 2009

sábado, maio 16, 2009

Sem título

Caem do céu
Somente as chuvas,
Somente as luzes da manhã.
No solo triste
E velho
Dormem as velhas lembranças,
As velhas saudades,
Guardadas que estão
Em caixões de madeira de lei.

Caem do céu as chuvas,
Mas não as luzes da manhã.

Tubo

Minha adolescência foi marcada pela água. Essa experiência se estendeu por toda minha vida e trago esta adoração pelo ambiente líquido desde então. Ali, me sinto como num templo. Quem já experimentou olhar a superfície da água debaixo para cima, seja numa piscina, num rio, num lago ou no mar, sabe que é um mundo totalmente diferente e maravilhoso.
Naquela época, além da natação eu adorava o surf. Acompanhava pela tv, revistas, cinema... Mas nunca pude tentar surfar uma onda e de certa maneira, o que me atraía mesmo era a cor, o movimento, a vida que aqueles seres lindos da Natureza que alguns chamam de vagas, distribuíam. Estar dentro de um tubo azul e branco não é pra qualquer um. Apenas alguns determinados e talentosos podem fazer isso. Não sou um deles, setecentos quilômetros me separam do mar, mas fico aqui no cerrado. Extasiado.


quinta-feira, maio 07, 2009

À beira




Sentado à Beira do Caminho


Roberto e Erasmo Carlos

Eu não posso mais ficar aqui a esperar
que um dia, de repente, você volte para mim
Vejo caminhões e carros apressados a passar por mim
estou sentado à beira de um caminho que não tem mais fim
Meu olhar se perde na poeira dessa estrada triste
onde a tristeza e a saudade de você ainda existem
Esse sol que queima no meu rosto um resto de esperança
de ao menos ver de perto o seu olhar que eu trago na lembrança

Preciso acabar logo com isso
Preciso lembrar que eu existo

Vem a chuva, molha o meu rosto e então eu choro tanto
minhas lágrimas e os pingos dessa chuva
se confundem com o meu pranto
Olho pra mim mesmo, me procuro e não encontro nada
sou um pobre resto de esperança à beira de uma estrada

Preciso acabar logo com isso
Preciso lembrar que eu existo

Carros, caminhões, poeira, estrada, tudo, tudo
se confunde em minha mente
minha sombra me acompanha
e vê que eu estou morrendo lentamente
Só você não vê que eu não posso mais ficar aqui sozinho
esperando a vida inteira por você, sentado à beira do caminho

Preciso acabar logo com isso
Preciso lembrar que eu existo