domingo, maio 31, 2009

Um Cego

Um Cego

Não sei qual é a face que me mira
quando miro essa face que há no espelho;
e desconheço no reflexo o velho
que o escruta, com silente e exausta ira.

Lento na sombra, com a mão exploro
meus traços invisíveis. Um lampejo
me alcança. O seu cabelo, que entrevejo,
é todo cinza ou é ainda de ouro.

Repito que perdi unicamente
a superfície vã das simples coisas.
Meu consolo é de Milton e é valente,

porém penso nas letras e nas rosas.
Penso que se pudesse ver meu rosto
saberia quem sou neste sol-posto.

Jorge Luis Borges

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