quinta-feira, abril 30, 2009

Porto&Degani

Eu e o Luiz Eduardo nos divertíamos quando saíamos juntos e achavam que éramos irmãos. Era o mesmo biótipo. Magrelos, queixudos, cabeludos e com cara de distraídos. Tenho certeza que ele era muito mais distraído que eu. Estudei muitas noites na casa dele e tenho vários casos que merecem ser mostrados aqui um dia.
Na época de faculdade eu escrevia muito. Uma quantidade imensa de textos foi perdida, pois escrevia em cadernos alheios, guardanapos, papéis esparsos e sem donos. O Luiz Eduardo Porto, que veio de uma família culta, tocava flauta transversa e violão. E bem. Enquanto o Haddad fazia a parte rítmica, Luiz “solava”. Ou então, estava na flauta dando base para a voz linda do Haddad.
Um dia apresentei alguns escritos e resolvemos compor. Eu não entendia nada de música, mas sempre tive ritmo e preferi que o Luiz fizesse a melodia para que eu colocasse a letra em cima. Não queria que ele apenas musicasse algum poema meu. Foi uma noite deliciosa de criação. Ele foi tocando e eu rabiscando versos. Trocávamos idéias e reformávamos letra e melodia. Naquela noite pude sonhar e entender a maravilha que é essa capacidade de criar que meus ídolos fizeram tão bem. Tivemos outras oportunidades e algumas pequenas peças musicais acabaram sendo criadas, mas a maioria se perdeu no tempo e na memória.
Outro dia mexendo em papéis velhos me deparei com este pedaço. Depois de tantos rabiscos, estas quatorze linhas traduzem a letra final da música, que nem demos título. A melodia ficou gravada numa fita cassete que torço para eu achar um dia na bagunça organizada onde escrevo agora.
Luiz Eduardo foi para os EUA e há anos não o vejo. Não sei se ainda nos parecemos fisicamente, mas tenho certeza que ainda guardamos algo em comum.



Quando você partir das Minas Gerais
Leve no coração uma brisa leve
Leve no coração uma cantiga breve
Pra você cantar nas ruas e nos quintais

Quando o trem de ferro que não existe mais
Te levar pelos trilhos afora
Ouvirá ao longe um berro
Deixará pra trás os brilhos
Dos metais, dos minerais
Sepultados nos fundos da memória

Quando você partir das Minas Gerais
Leve no coração uma brisa leve
Leve no coração uma cantiga breve
Pra você sonhar nas noites de lua


quarta-feira, abril 29, 2009

Dois pesos

O Ricardo Mumu me mandou este texto que retrata bem alguns fatos recentes neste mundo globalizado. Mas acabei me lembrando de uns papos de faculdade, quando ficávamos ali de frente para o prédio do Básico no campus Santa Mônica da UFU discutindo política. Tinham os comunistas, os comunistas do Brasil, os nenhum deles, os capitalistas, os direitistas. Tinha de tudo. Alguns dos últimos baseavam seus argumentos na livre concorrência, na “mão invisível do mercado”, na própria evolução natural das empresas. Diziam a vantagem de permitir que as próprias empresas extinguissem, ficando apenas as melhores, mais eficientes, blá, bla, blá...
Gostaria de me reunir agora com aquelas mesmas pessoas, quem sabe no mesmo local, pra voltar a bater aquele papo...


Texto atribuído ao Neto, Mentor Muniz Neto, diretor de criação e sócio da Bullet, uma das maiores agências de propaganda do Brasil, sobre a crise mundial:

"Vou fazer um slideshow para você. Está preparado?
É comum, você já viu essas imagens antes. Quem sabe até já se acostumou com elas. Começa com aquelas crianças famintas da África. Aquelas com os ossos visíveis por baixo da pele. Aquelas com moscas nos olhos. Os slides se sucedem. Êxodos de populações inteiras... Gente faminta. Gente pobre. Gente sem futuro.
Durante décadas, vimos essas imagens. No Discovery Channel, na National Geographic, nos concursos de foto. Algumas viraram até objetos de arte, em livros de fotógrafos renomados. São imagens de miséria que comovem. São imagens que criam plataformas de governo. Criam ONGs. Criam entidades. Criam movimentos sociais.
A miséria pelo mundo, seja em Uganda ou no Ceará, na Índia ou em Bogotá sensibiliza. Ano após ano, discutiu-se o que fazer. Anos de pressão para sensibilizar uma infinidade de líderes que se sucederam nas nações mais poderosas do planeta.
Dizem que 40 bilhões de dólares seriam necessários para resolver o problema da fome no mundo. Resolver, capicce? Extinguir. Não haveria mais nenhum menininho terrivelmente magro e sem futuro, em nenhum canto do planeta. Não sei como calcularam este número. Mas digamos que esteja subestimado. Digamos que seja o dobro. Ou o triplo. Com 120 bilhões o mundo seria um lugar mais justo.
Não houve passeata, discurso político ou filosófico ou foto que sensibilizasse. Não houve documentário, ONG, lobby ou pressão que resolvesse. Mas em uma semana, os mesmos líderes, as mesmas potências, tiraram da cartola 2.2 trilhões de dólares (700 bi nos EUA, 1.5 tri na Europa) para salvar da fome quem já estava de barriga cheia: bancos e investidores.”

sábado, abril 25, 2009

Hora de se render



Moments of Surrender

I tied myself with wire
To let the horses roam free
Playing with the fire
until the fire played with me
The stone was semi-precious
We were barely conscious
Two souls too smart to be
in the realm of certainty
Even on our wedding day

We set ourselves on fire
Oh God, do not deny her
It's not if I believe in love
But if love believes in me
Oh, believe in me

At the moment of surrender
I folded to my knees
I did not notice the passers-by
And they did not notice me

I've been in every black hole
At the altar of the dark star
My body's now a begging bowl
That's begging to get back,
begging to get back
To my heart
To the rhythm of my soul
To the rhythm of my unconsciousness
To the rhythm that yearns
To be released from control

I was punching in the numbers
at the ATM machine
I could see in the reflection
A face staring back at me

At the moment of surrender
Of vision over visibility
I did not notice the passers-by
And they did not notice me

I was speeding on the subway
Through the stations of the cross
Every eye looking every other way
Counting down 'til the pain would stop

At the moment of surrender
Of vision over visibility
I did not notice the passers-by
And they did not notice me


Hora de se render

Me amarrei com fios
Para os cavalos correrem livres
Brincando com fogo
Até que o fogo brincou comigo
A pedra era semi-preciosa
Nós estávamos semi-conscientes
Duas almas espertas demais
Para estar no reino da certeza
Mesmo no dia do nosso casamento

Nós nos colocamos em chamas
Ó Deus, não a negue
Não é se eu acredito em amor
Mas se o amor acredita em mim
Oh, acredite em mim

Na hora de se render
Eu fiquei de joelhos
Não prestei atenção nas pessoas que passavam
E elas não prestaram atenção em mim

Eu estive em todos os buracos negros
No altar da estrela negra
Meu corpo se tornou um recipiente de esmolas
Que está implorando para voltar
Implorando para voltar
Para o meu coração
Para o ritmo de minha alma
Para o ritmo da minha inconsciência
Para o ritmo que se lembra
Para ser libertado do controle

Eu estava apertando os números de um caixa eletrônico
Eu podia ver no reflexo
Uma face me encarando
Na hora de se render
De visão sobre visibilidade
Eu não prestei atenção nas pessoas que passavam
E elas não prestaram atenção em mim

Eu estava correndo no metrô
Pelas estações que se cruzavam
Todos os olhos olhando para o outro lado
Contando para quando a dor iria parar

Na hora de se render
De visão sobre visibilidade
Eu não prestei atenção nas pessoas que passavam
E elas não prestaram atenção em mim

quinta-feira, abril 23, 2009

Hai kai 10

Passo

Com o aço
Que faço
O espaço,
Disfarço.

Mas meu passo
Me trai.

domingo, abril 19, 2009

Tarde?

Dois posts atrás escrevi algo sobre essa coisa de ser tarde. Muitas vezes nos pegamos assim, achando que é tarde. É muito difícil afirmar algo nesse sentido, mas sempre acontece. Mesmo sem saber, dizemos: É tarde!
A cada dia que passa, quanto mais o dia da vida avança, mais percebo que não é tarde. Tenho quase certeza que nunca será.
Veja o vídeo e ao fim dos sete minutos, me diga: É tarde?

sábado, abril 18, 2009

Sem título

Paixão
O que vejo é o céu
Do chão
O que sinto é o seu
Ou não
O que quis não fiz
Perdão

quinta-feira, abril 16, 2009

Um copo

Não dá pra perceber
Se tarde é um pedaço do dia
Ou um pedaço da vida

Não dá pra entender
Se tarde já é o dia
Ou o momento da vida

Não dá pra se morrer
Se tarde ainda não é
Pra beber um copo de vida

Tem dias que o céu é assim - 6

domingo, abril 12, 2009

Sem título

A menina
Da sacada
Saca o beijo
Na calçada
E sonha
Extasiada
Com o próprio desejo

sábado, abril 11, 2009

Da minha cidade

Muitas vontades tive de ir ao longe, viajar pelo mundo. Talvez eu tivesse me dado bem em andar por aí. Muitas pessoas trocam de lugar, plantam jardins, observam cotias e se vão novamente. Muitas pessoas passam pela minha cidade, pelo meu lugar. Daqui se pode ver muita coisa. Olhando aqui se pode ver muito mais.


Da minha aldeia vejo quando da terra se pode ver no Universo....
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...

Alberto Caeiro (Fernando Pessoa) em O Guardador de Rebanhos

sexta-feira, abril 10, 2009

Tem dias que o céu é assim - 5

Espelho de Água

Chego à beira do rio
E olho para aquele espelho de água.
Estou bem na minha frente
Me delatando
Me denunciando
Me cobrando.
Às vezes eu me olho turvamente,
Ondulantemente
Tranqüilamente
Bem na mente.
Sinto-me olhando-me no fundo,
No meu fundo, do fundo do rio.
Não sei por que, mas rio,
E acho graça
Sentindo-me olhado por mim.

Aí então,
Com a minha mão,
Toco a água,
Quebro o espelho
E lavo meu rosto.

quinta-feira, abril 09, 2009

Sem título

Isso ou aquilo.
A cigarra ou o grilo.
O viço. A garra. O desvelo.
O momento e o compromisso
de vivê-lo. De senti-lo.

domingo, abril 05, 2009

Cobain

Eu respeito aqueles que agem como idiotas quando são realmente inteligentes.

Kurt Cobain