quarta-feira, abril 29, 2009

Dois pesos

O Ricardo Mumu me mandou este texto que retrata bem alguns fatos recentes neste mundo globalizado. Mas acabei me lembrando de uns papos de faculdade, quando ficávamos ali de frente para o prédio do Básico no campus Santa Mônica da UFU discutindo política. Tinham os comunistas, os comunistas do Brasil, os nenhum deles, os capitalistas, os direitistas. Tinha de tudo. Alguns dos últimos baseavam seus argumentos na livre concorrência, na “mão invisível do mercado”, na própria evolução natural das empresas. Diziam a vantagem de permitir que as próprias empresas extinguissem, ficando apenas as melhores, mais eficientes, blá, bla, blá...
Gostaria de me reunir agora com aquelas mesmas pessoas, quem sabe no mesmo local, pra voltar a bater aquele papo...


Texto atribuído ao Neto, Mentor Muniz Neto, diretor de criação e sócio da Bullet, uma das maiores agências de propaganda do Brasil, sobre a crise mundial:

"Vou fazer um slideshow para você. Está preparado?
É comum, você já viu essas imagens antes. Quem sabe até já se acostumou com elas. Começa com aquelas crianças famintas da África. Aquelas com os ossos visíveis por baixo da pele. Aquelas com moscas nos olhos. Os slides se sucedem. Êxodos de populações inteiras... Gente faminta. Gente pobre. Gente sem futuro.
Durante décadas, vimos essas imagens. No Discovery Channel, na National Geographic, nos concursos de foto. Algumas viraram até objetos de arte, em livros de fotógrafos renomados. São imagens de miséria que comovem. São imagens que criam plataformas de governo. Criam ONGs. Criam entidades. Criam movimentos sociais.
A miséria pelo mundo, seja em Uganda ou no Ceará, na Índia ou em Bogotá sensibiliza. Ano após ano, discutiu-se o que fazer. Anos de pressão para sensibilizar uma infinidade de líderes que se sucederam nas nações mais poderosas do planeta.
Dizem que 40 bilhões de dólares seriam necessários para resolver o problema da fome no mundo. Resolver, capicce? Extinguir. Não haveria mais nenhum menininho terrivelmente magro e sem futuro, em nenhum canto do planeta. Não sei como calcularam este número. Mas digamos que esteja subestimado. Digamos que seja o dobro. Ou o triplo. Com 120 bilhões o mundo seria um lugar mais justo.
Não houve passeata, discurso político ou filosófico ou foto que sensibilizasse. Não houve documentário, ONG, lobby ou pressão que resolvesse. Mas em uma semana, os mesmos líderes, as mesmas potências, tiraram da cartola 2.2 trilhões de dólares (700 bi nos EUA, 1.5 tri na Europa) para salvar da fome quem já estava de barriga cheia: bancos e investidores.”

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