domingo, julho 31, 2011

Fatalismo

Amo o que em ti há de trágico. De mau.
De sublime. Amo o crime escondido no teu andar.
A tua forma de olhar. O teu riso fingido
e cristalino.

Amo o veneno dos teus beijos. O teu hálito pagão.
A tua mão insegura
na mentira dos teus gestos.
Amo o teu corpo de maçã madura.

Amo o silêncio perpendicular do teu contato
A fúria incontrolável da maré
nas ondas vaginais do teu orgasmo.
E esta tua ausência
Este não-ser que é

Manuela Amaral

sábado, julho 30, 2011

Hey Jude

Por indicação do Luciano Araújo, posto esse vídeo aqui. Nenhuma novidade postar vídeo dos Beatles. Mas queria que você reparasse nos detalhes. Aqueles, estampados nos olhos destas pessoas que participaram no palco.

Quantos deles já se foram, assim como John e George? Quantos se deram bem na vida? Quantos estão tristes? Quantos encontraram a razão de suas vidas?

Mas a certeza é que aqueles que se foram e aqueles que ainda estão por aqui tiveram/têm uma lembrança maravilhosa pra guardar. Pra essa e pra outras vidas que venham viver. Momentos efêmeros e maravilhosos que todos eles guardaram em suas mentes e em seus corações.



A uma mulher amada

Ditosa que ao teu lado só por ti suspiro!
Quem goza o prazer de te escutar,
quem vê, às vezes, teu doce sorriso.
Nem os deuses felizes o podem igualar.

Sinto um fogo sutil correr de veia em veia
por minha carne, ó suave bem-querida,
e no transporte doce que a minha alma enleia
eu sinto asperamente a voz emudecida.

Uma nuvem confusa me enevoa o olhar.
Não ouço mais. Eu caio num langor supremo;
E pálida e perdida e febril e sem ar,
um frêmito me abala… eu quase morro … eu tremo.

Safo

quinta-feira, julho 28, 2011

E eu achando que era amor - por Renato Cabral

Eu queria ter escrito algo aqui, pra efeito de preâmbulo, como sempre faço nos textos do Cabral aqui publicados, mas vou ficar com umtrecho do próprio texto, que destaco: "Mas esta história não é só minha. Esta é a história de todos nós, desses anônimos que movimentam os bares, os jardins e os cemitérios, porque até os suicidas querem ser felizes."



E eu achando que era amor.

Como começar um texto, que ao final, será uma declaração de amor, brega e inconstante?

Talvez do mesmo modo como um amor começa: de uma vez, daquele jeito que não conseguimos saber mais onde um deu a mão e o outro estendeu a dele. Deve ser por isso que tantos dizem que é da espontaneidade que nascem os melhores sorrisos e os melhores tropeços. Ela me derrubou. E estou rindo aqui do chão.

Mas esta história não é só minha. Esta é a história de todos nós, desses anônimos que movimentam os bares, os jardins e os cemitérios, porque até os suicidas querem ser felizes. É a história desses tantos que se esbarram pelas esquinas ou se encontram nos balcões por aí. As coisas sempre dando seu testemunho dos nossos melhores acasos. E nós como os alvos desavisados de cupidos incansáveis.

É que ela me acertou com a beirada da coxa e uma frase de humor. Primeiro o joelho, depois a franja dançando sobre os olhos. Foi o bastante para o álcool do corpo ir para alma. Fiquei bêbado num estalo. E os bêbados são tolos, mas não são mentirosos. Meu sorriso entregava minha dissimulação. Eu tentando pajear minha falta de jeito, tentando me fazer maior e mais interessante, e os dentes contando que eu já estava de joelhos, voluntariamente preso a tudo aquilo quando ela mexia os cabelos. E nos beijamos. O beijo dela como um abraço de lábios, que durava mesmo quando ela já não estava.

O tempo passava e entre um encontro e outro tinha aquela coisa que colava o último momento no próximo. Eu achava que era saudade. E isso virou meu jeito de visitar o dia não mais com esperanças tolas e expectativas além do alcance dos braços, mas livre de tudo que não fosse só o essencial. E o essencial era já não precisar de nada a não ser ela, porque ela trazia tudo.

Seu jeito de me fazer importante, mas desnecessário, era o motivo que mantinha minhas cambalhotas no picadeiro, tudo para fazê-la continuar brilhando os olhos. Porque são os cílios, vocês sabem, os delatores dos que estão apaixonados. São esses pequenos braços que acariciam a bochecha do outro. E os meus ganharam os dela num beijo de olho.

Seu sorriso era mais obsceno que qualquer decote. Eu a namorando sem ela saber, fosse comprando um ingresso para o cinema, fosse pedindo por ela antes de dormir. Fosse aceitando em mim que ela ainda tinha outros e que ainda não era só minha. E por isso, conquistá-la tinha tanto sabor.

Em casa ela fazia outra de suas mágicas. Conseguia tornar todos os cômodos em quarto. E todo canto era uma desculpa para o sexo. Nossa fantasia era aquela que se vestia num abraço. Simples assim. Nos encostávamos e isso bastava. A ansiedade por ela tinha cheiro de coisa boa, era vontade de ficar por perto. E essa gana, era nosso jeito de nos ver de novo, mesmo longe.

Eu me distraia nas suas tatuagens. E ela achava que eu era muito baixinho. Deboche que mascarava o que ela também estampava na bochecha, vermelha, também quente de vontade. Eu não gostava das suas rasteirinhas e ela não gostava de ter os pés longe do chão, mas os braços estendidos ao céu mostravam que ela queria era voar. Era livre como poucas. E na impossibilidade de voar junto, porque já tinha por demais o peso do mundo nos ombros, me tornei lugar de pouso, de onde ela ia e vinha quando queria. Era a nossa fidelidade jurada sem palavras. Fiel ao outro sem nunca pedir nada em troca.

E para ela dei tudo, até aquilo que nunca gostei em mim. Era meu jeito de dizer que ao seu lado, estava em casa e até minhas pequenezas ficavam mais interessantes. Com ela, perdi a vergonha de ficar louco. E por não me negar mais, nunca mais falei sozinho nem joguei pedras no mundo. Aprendi que as lágrimas podem esperar quando a prioridade é ser alegre. Depois disso, não parei mais de sorrir. Como nas boas histórias, ainda não consigo prever o final deste filme. Porque de tão presente na narrativa, ela se tornou minha própria vida.

Por não termos saída um para outro, vivemos todos os dias nossa impossibilidade de fuga. E, assim, tenho aprendido que nossa relação não tem fim, porque se a paixão pode morrer ou se transformar em tanta coisa, até no desgosto, o amor só pode virar a eternidade. Mas aí, quando eu achava que era amor, ela veio e me disse: “Um afeto tão novo, tão irreconhecível. Te tenho como minha nuvem, que muda de forma a cada instante. Melhor esse afeto não ter nome para não significar nada e dar sentido a tudo”.

Para você, então, meu motivo, já posso agora te contar. Saudade não é sentir a falta de alguém ausente. Saudade é quando você encontra aquela pessoa e ao abraçá-la, descobre, repentinamente, naquele momento mesmo, como ela fazia falta. É por isso que a saudade só é possível com o amor. É por isso que te esperei a vida inteira. E é isso que sinto todos os dias quanto te vejo e te abraço. Não fique longe. Porque com você ausente, minha saudade morre. E meu amor também. Porque para nós, melhor que eu te amo é tenho saudade de você.

Renato Cabral

quarta-feira, julho 27, 2011

Love Is A Losing Game

It Never Entered my Mind

Da preguiça

Suave Preguiça, que do mau-querer
E de tolices mil ao abrigo nos pões…
Por causa tua, quantas más ações
Deixei de cometer!

Mario Quintana

terça-feira, julho 26, 2011

Amy and Dionne

Dois videos pra gente ver um pouco da alma dessa menina que foi tão cedo, mas que parece que tinha seu destino traçado. O jeito dela em relação a Dionne Bromfield mostra quem era ela. Essa outra menina é uma privilegiada.

Veja o primeiro aqui.

E o segundo, aqui.

Lauryn Hill 3

Essa aqui é histórica e na voz de outra diva fez marcas em minha alma. Aí, segue a letra também...




Can't Take My Eyes Off You

You're just too good to be true
Can't take my eyes off you
You'd be like heaven to touch
I wanna hold you so much
At long last love has arrived
I thank God I'm alive
You're just too good to be true
Can't take my eyes off you

Pardon the way that I stare
There's nothing else to compare
The sight of you leaves me weak
There are no words left to speak
But if you feel like I feel
Please let me know that it's real
You're just too good to be true
Can't take my eyes off you

I love you, baby
And if it's quite alright
I need you, baby
To warm a lonely night
I love you, baby
Trust in me when I say
Oh, pretty baby
Don't bring me down, I pray
Oh, pretty baby, now that I found you, stay
And let me love you, baby
Let me love you

You're just too good to be true
Can't take my eyes off you
You'd be like heaven to touch
I wanna hold you so much
At long last love has arrived
And I thank God I'm alive
You're just too good to be true
Can't take my eyes off you

I love you, baby
And if it's quite alright
I need you, baby
To warm a lonely night
I love you, baby
Trust in me when I say
Oh, pretty baby
Don't bring me down, I pray
Oh, pretty baby, now that I found you, stay
And let me love you, baby
Let me love you



Lauryn Hill 2

Mais uma dela...


Lauryn Hill

Ela tá sumida. Afinal, acabou de ter seu sexto filho!... Poderia voltar um pouquinho pra nos dar mais coisas assim, com essa voz maravilhosa.

Lembra-te

Lembra-te
que todos os momentos
que nos coroaram
todas as estradas
radiosas que abrimos
irão achando sem fim
seu ansioso lugar
seu botão de florir
o horizonte
e que dessa procura
extenuante e precisa
não teremos sinal
senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro
vividos

Mário Cesariny

segunda-feira, julho 25, 2011

Em horas inda louras, lindas

Em horas inda louras, lindas
Clorindas e Belindas, brandas,
Brincam no tempo das berlindas,
As vindas vendo das varandas,
De onde ouvem vir a rir as vindas
Fitam a fio as frias bandas.

Mas em torno à tarde se entorna
A atordoar o ar que arde
Que a eterna tarde já não torna !
E o tom de atoarda todo o alarde
Do adornado ardor transtorna
No ar de torpor da tarda tarde.

E há nevoentos desencantos
Dos encantos dos pensamentos
Nos santos lentos dos recantos
Dos bentos cantos dos conventos….
Prantos de intentos, lentos, tantos
Que encantam os atentos ventos.


Fernando Pessoa

sexta-feira, julho 22, 2011

Na sua, pode?

Water

Só a natureza é divina

Só a natureza é divina, e ela não é divina…
Se falo dela como de um ente
É que para falar dela preciso usar da linguagem dos homens
Que dá personalidade às cousas,
E impõe nome às cousas.

Mas as cousas não têm nome nem personalidade:
Existem, e o céu é grande a terra larga,
E o nosso coração do tamanho de um punho fechado…

Bendito seja eu por tudo quanto sei.
Gozo tudo isso como quem sabe que há o sol.

Fernando Pessoa

Mulher andando nua pela casa

Mulher andando nua pela casa
envolve a gente de tamanha paz.
Não é nudez datada, provocante.
É um andar vestida de nudez,
inocência de irmã e copo d’água.
O corpo nem sequer é percebido
pelo ritmo que o leva.

Transitam curvas em estado de pureza,
dando este nome à vida: castidade.
Pêlos que fascinavam não perturbam.
Seios, nádegas (tácito armistício)
repousam de guerra. Também eu repouso.

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, julho 20, 2011

70



Era um sete de setembro e ela estava lá como sempre foi. Linda, elegante e única. Eu ainda não chegava ao ombro dela, mas já a admirava. Ainda mantinha minhas mãos nos bolsos, era quieto, calado e observador. E observava. Seu porte altivo, de rosto mirando à frente, como todos devemos ser. Eu e Marelena sempre tentamos copiar isso nas fotos, mas nenhum de nós a superava. Nenhum de nós a superará.

Hoje não é sete como sete foi o dia que escrevi aqui para ela, quando ela se foi. Hoje é setenta. Setenta vezes Maria do Carmo.

Terra

sábado, julho 16, 2011