quinta-feira, dezembro 30, 2010

Paz na Terra

Há onze anos o mundo se contorcia de medo de algo chamado Y2K. Ninguém sabia exatamente o que aconteceria aos sistemas de informática, aos quais todos nós estamos ligados, quando o ano virasse de 99 para 00. Muita gente achava que aquilo era a virada do milênio, que na verdade aconteceu um ano depois.

Então, nada aconteceu... A não ser a elevação do caixa das empresas que lucraram com a paranóia daquela virada. E então, um ano depois o ano virou, a década virou, o milênio virou. Era algo tão raro que tenho certeza que raros não mantém na memória o que faziam naquele momento. As esperanças foram três vezes renovadas. Viramos páginas, deixamos amarguras pra trás, miramos numa nova era.

Dez anos se passaram e muita coisa mudou mesmo. O mundo mudou demais. E não foi por causa do onze de setembro. Mudou porque as comunicações entre as pessoas se tornaram mais instantâneas. Isso não tornou tais comunicações mais intensas, mais verdadeiras, mais prazerosas. Fazer isso ficou a cargo de cada um. Mudou porque é a mudança que leva a gente pra frente e muita gente quis isso. É a mudança que nos força o aprendizado. E a única certeza que tenho é que vim aqui pra isso. Pra aprender.

E aí, agora lá se vai mais uma década. Viraremos páginas, deixaremos amarguras pra trás, miraremos uma nova era. É assim. É desse jeito que o mundo gira, é desse jeito que a gente aprende, é desse jeito que iremos em direção ao nosso fim.

Se é que ele existe.



quarta-feira, dezembro 29, 2010

Monet - 2

Nu

Quando estás vestida,
Ninguém imagina
Os mundos que escondes
Sob as tuas roupas.

(Assim quando é dia,
Não temos noção
Dos astros que luzem
No profundo céu.

Mas a noite é nua,
E, nua na noite,
Palpitam teus mundos
E os mundos da noite.

Brilham teus joelhos
Brilha o teu umbigo.
Brilha toda a tua
Lira abdominal.

Teus seios exiguos
- Como na rijeza
Do tronco robusto
Dois frutos pequenos –
Brilham.) Ah teus seios!

Teus duros mamilos!
Teu dorso! Teus flancos!
Ah, tuas espáduas!
Se nua, teus olhos

Ficam nus também;
Teu olhar mais longo,
Mais lento, mais líquido.
Então, dentro deles,

Bóio, nado, salto
Baixo num mergulho
Perpendicular!
Baixo até o mais fundo

De teu ser, lá onde
Me sorri tua alma,
Nua, nua, nua.

Manuel Bandeira

terça-feira, dezembro 28, 2010

segunda-feira, dezembro 27, 2010

KOL

Já disse aqui que o Leon é o pai de três dos caras e tio do outro. A família Followill continua fazendo esse som meio estranho pra alguns, mas rock'n'roll do bom. Dizem que é meio caipira (country?), dizem que são o U2 dos EUA, dizem que a influência religiosa do pai pastor pega demais, dizem que os caras estão se achando... Caleb, Nathan, Jared e Matthew estão mesmo é se firmando como uma banda pra deixar sua marca no R'n'R.





domingo, dezembro 26, 2010

If I Fell - The Beatles

Quem conhece um pouco destes caras, consegue perceber a alegria em seus olhos. Como a alegria dos nossos em ter a certeza de ter podido ouvir coisas assim, como essa...




If I Fell

Lennon&McCartney

If I fell in love with you,
Would you promise to be true
And help me understand?

'Cause I've been in love before
And I found that love is more
Than just holdin' hands.

If I give my heart
To you,
I must be sure
From the very start
That you
Would love me more than her.

If I trust in you
Oh, please,
Don't run and hide.
If I love you too
Oh, please,
Don't hurt my pride like her

'Cause I couldn't stand the pain
And I
Would be sad if our new love
Was in vain.

So I hope you see
That I
Would love to love you
And that she
Will cry
When she learns we are two

'Cause I couldn't stand the pain
And I
Would be sad if our new love
Was in vain.

So I hope you see
That I
Would love to love you
And that she
Will cry
When she learns we are two.
If I fell in love with you.


Se Eu Cair

Se eu me apaixonar por você
Você promete ser verdadeira?
E me ajudar a entender?

Pois eu já amei antes
E eu acho que amor é mais
Do que apenas dar as mãos

Se eu lhe der
meu coração
Preciso ter certeza
desde o início
Que você
Irá me amar mais que ela

Se eu confiar em você
Oh, por favor
Não corra e se esconda
Se eu amar você também
Oh, por favor
Não fira meu orgulho como ela

Pois eu não aguentaria a dor
E eu ficaria triste se nosso novo amor
Fosse em vão

Então eu espero que você veja
Que eu
Adoraria amar você
E que ela irá chorar
Quando ela souber que somos um casal

Se eu me apaixonar por você.

Porque não posso segurar a dor
e eu
Ficarei triste se nosso novo amor
for em vão

Então espero que você veja
que eu
Amaria te amar
e que ela
vai chorar
quando aprender que somos dois
Se eu me apaixonar por você


sábado, dezembro 25, 2010

Neil Young & Pearl Jam!

Pela sugestão do Luciano Araújo.


Walls and Bridges and Glasses

Mais uma brincadeira do Júnior Degani.






sexta-feira, dezembro 24, 2010

War is over

Poema de Natal

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —

Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:

Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —

De repente nunca mais esperaremos…
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.


Vinicius de Moraes

Driving - Everything But The Girl

Algumas versões lindas pra curtir com calma...











Google Natal


O Google sempre está na frente. Dá pra perceber que as pessoas que lá trabalham têm um espírito diferenciado. Neste Natal, a cara do site tem uns quadrinhos muito simpáticos. A simpatia necessária pra essas épocas.

terça-feira, dezembro 21, 2010

Macchina

Italianos são diferentes.


segunda-feira, dezembro 20, 2010

Break of day

Stay, O sweet, and do not rise;
The light that shines comes from thine eyes;
The day breaks not, it is my heart,
Because that you and I must part.
Stay, or else my joys will die,
And perish in their infancy.

John Donne

Nascer do dia

Fica, doçura, não te levantes;
A luz que brilha vem dos teus olhos neste instante;
Não é o dia que se quebra, é o meu coração que se parte,
Porque temos tu e eu de separar-nos tão depressa.
Fica, senão a minha alegria toda perece,
e mal nasce, já se extinguiu.

sábado, dezembro 18, 2010

As três graças no Louvre




PARIS, 17 dez 2010 (AFP) -O Louvre poderá comprar o quadro "As três graças", de Lucas Cranach, depois de arrecadar um milhão de euros em doações particulares, a quantia que faltava para poder concluir a compra, anunciou nesta sexta-feira o museu francês.
"É um magnífico presente de Natal para o Louvre", afirmou Henri Loyrette, presidente-diretor do Louvre. "As três graças", quadro pintado sobre madeira, criado em 1531 por Lucas Cranach - grande pintor do Renascimento alemão -, apresenta três jovens nuas sobre um fundo escuro.

O vendedor está pedindo quatro milhões de euros (5,2 milhões de dólares) por esta obra, que se encontra na França e foi catalogada como "Tesouro Nacional". O Louvre reuniu 3 milhões de euros graças a empresas e sua própria verba de aquisição, mas faltava um milhão de euros para concluir a transação.


(No UOL)


Atenção ao Sábado


Acho que sábado é a rosa da semana; sábado de tarde a casa é feita de cortinas ao vento, e alguém despeja um balde de água no terraço; sábado ao vento é a rosa da semana; sábado de manhã, a abelha no quintal, e o vento: uma picada, o rosto inchado, sangue e mel, aguilhão em mim perdido: outras abelhas farejarão e no outro sábado de manhã vou ver se o quintal vai estar cheio de abelhas.

No sábado é que as formigas subiam pela pedra.

Foi num sábado que vi um homem sentado na sombra da calçada comendo de uma cuia de carne-seca e pirão; nós já tínhamos tomado banho.

De tarde a campainha inaugurava ao vento a matinê de cinema: ao vento sábado era a rosa de nossa semana.

Se chovia só eu sabia que era sábado; uma rosa molhada, não é?

No Rio de Janeiro, quando se pensa que a semana vai morrer, com grande esforço metálico a semana se abre em rosa: o carro freia de súbito e, antes do vento espantado poder recomeçar, vejo que é sábado de tarde.

Tem sido sábado, mas já não me perguntam mais.

Mas já peguei as minhas coisas e fui para domingo de manhã.

Domingo de manhã também é a rosa da semana.

Não é propriamente rosa que eu quero dizer.


Clarice Lispector

sexta-feira, dezembro 17, 2010

O sorriso

Creio que foi o sorriso,
sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele

Eugénio de Andrade

Amor

Amemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!

Na tu’alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!

Quero em teus lábio beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!

Quero viver d’esperança,
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!

Vem, anjo, minha donzela,
Minha’alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!

E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!

Alvares de Azevedo

quinta-feira, dezembro 16, 2010

Entrevista com Julian Assange

Não é uma questão de certo ou errado. Guardar ou não guardar um segredo. Aliás, segredo é aquilo que para seu dono é bom que continue assim. E só. A questão é mudar as coisas ou não mudar.

Entrevista com Julian Assange, criador do WikiLeaks.


quarta-feira, dezembro 15, 2010

Incêndio

Tu acendes a chama
do meu corpo
pões a lenha ao fundo
em sítio seco

Procuras no desejo
o ponto certo
e convocas aí
o vento aberto

Se a madeira demora
a ganhar fogo
tomas-me as pernas
e deitas lento o vinho

Riscas os fósforos todos
e depois
é mais um incêndio
que adivinho


Maria Teresa Horta

domingo, dezembro 12, 2010

Scrambled eggs

Paul McCartney at "Late Night With Jimmy Fallon"


sábado, dezembro 11, 2010

Sem título

Tempestades em seus olhos

Tempo não mais

Mar não mais

Tempestades em seus olhos

Céu negro do Atlântico

Não mais

E os olhos, e os olhos...

sexta-feira, dezembro 10, 2010

Quase eterno

(...)
Mas eu não quero ser senão eterno.
Que os séculos apodreçam e não reste mais do que uma
essência ou nem isso.
E que eu desapareça mas fique este chão varrido onde
pousou uma sombra
e que não fique o chão nem fique a sombra
mas que a precisão urgente de ser eterno bóie como uma
esponja no caos
e entre oceanos de nada
gere um ritmo.

Carlos Drummond de Andrade, em um trecho de Eterno

Reinvenção

A vida só é possível
reinventada.

Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas…
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo… – mais nada.

Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.
Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.

Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.

Não te encontro, não te alcanço…
Só – no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.

Só – na treva,
fico: recebida e dada.
Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

Cecília Meirelles

quarta-feira, dezembro 08, 2010

Farei tudo



I will

Lennon&McCartney

Who knows how long I’ve loved you,
You know I love you still,
Will I wait a lonely lifetime,
If you want me to I will.

For if I ever saw you,
I didn’t catch your name,
But it never really mattered,
I will always feel the same.

Love you forever and forever,
Love you with all my heart;
Love you whenever we’re together,
Love you when we’re apart.

And when at last I find you,
Your song will fill the air,
Sing it loud so I can hear you,
Make it easy to be near you,
For the things you do endear you to me,
oh, you know I will.
I will.


Farei tudo

Tradução: Carlos Drummond de Andrade

Desde sempre te amei
e bem sabes que ainda te amo.
Devo esperar toda a vida?
Se quiseres — esperarei.

Se alguma vez te vi
nem sequer teu nome escutei.
Mas isso não faz diferença:
sempre a mesma coisa sentirei.

Eu te amarei por todo o sempre, sempre,
desde a raiz do meu coração
e te amarei quando estivermos juntos
e te amarei na solidão.

Quando finalmente te encontrar
tua canção envolverá o espaço.
Canta bem alto, para eu escutar.
Tudo farei para te dar o braço
pois tudo em ti me prende a mim.
Bem sabes que farei tudo
Tudo farei.

30 anos

sábado, dezembro 04, 2010

Mais uma carta

Heidelberg, 22 de abril de 1928

Minha cara Hannah!

Acho que posso compreender por que você não apareceu. Mas não consigo controlar a angústia que sinto. Desta vez voltei a sentir a mesma angústia quase enigmática e tão insistente.

Meu amor por você está como no primeiro dia: você bem sabe e eu sempre o soube, mesmo antes deste reencontro. O caminho que você me indica é mais longo e difícil do que eu pensava. Ele exige toda uma extensa vida. A solidão deste caminho é uma opção.(…) Sempre dou tanto quanto exigem de mim, e o próprio caminho não é outra coisa senão a tarefa que o nosso amor entregou-me. Teria perdido o direito à vida, se perdesse meu amor por você. No entanto, perderia este amor e a sua realidade, se me esquivasse da tarefa a que ele me impele.

“E se existe Deus,
Te amarei melhor depois da morte.”

Pertencendo absolutamente a você, seu
Martin.

- H. Arendt - M. Heidegger - Correspondências 1925/1975 -

A carta que não foi mandada

Paris, outono de 73

Estou no nosso bar mais uma vez
E escrevo pra dizer
Que é a mesma taça e a mesma luz
Brilhando no champanhe em vários tons azuis

No espelho em frente eu sou mais um freguês
Um homem que já foi feliz, talvez
E vejo que em seu rosto correm lágrimas de dor
Saudades, certamente, de algum grande amor
Mas ao vê-lo assim tão triste e só

Sou eu que estou chorando
Lágrimas iguais
E, a vida é assim, o tempo passa
E fica relembrando

Canções do amor demais
Sim, será mais um, mais um qualquer
Que vem de vez em quando
E olha para trás

É, existe sempre uma mulher
Pra se ficar pensando
Nem sei… nem lembro mais

Vinicius de Moraes

sexta-feira, dezembro 03, 2010

No lugar

Ao que antevejo
À beira do ensejo
De olhar
De despejar as retinas
No luar

Aos olhos fogueteadores
Cria de loucos ardores
De tocar
Todas as partes do corpo
No lugar

PaulinBrazil - Para não esquecer










Urgentemente

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente permanecer.

Eugénio de Andrade

domingo, novembro 28, 2010

Sonho do Poeta

Quem dera fosse meu
o poema de amor definitivo
Se amar fosse o bastante
poder eu poderia
pudera, às vezes,
parece ser esse
meu único destino

Mas vem o vento e leva
as palavras que digo minha canção de amigo. Um sonho de poeta
não vale o instante vivo.

Pode que muita gente
veja no que escrevo
tudo que sente
e vibre, e chore e ria como eu, antigamente, quando não sabia
que não há um verso, amor,
que te contente.

Alice Ruiz

Soneto LXII, Cem sonetos de amor

Ai de mim, aí de nós, bem-amada,
Só quisemos apenas amor, amar-nos,
E entre tantas dores se dispôs
Somente a nós dois ser malferidos.

Quisemos o tu e o eu para nós,
O tu do beijo, o eu do pão secreto,
E assim era tudo, eternamente simples,
Até que o ódio entrou pela janela.

Odeiam os que não amaram nosso amor,
Nem outro nenhum amor, desventurados
Como as cadeiras de um salão perdido,

Até que em cinza se enredaram
E o rosto ameaçante que tiveram
Se apagou no crepúsculo apagado.

Pablo Neruda

sexta-feira, novembro 26, 2010

PaulinBrazil - 3

Ainda não voltei ao meu normal. Ainda estou envolvido pelo clima daquelas 70.000 pessoas que se juntaram pra celebrar um momento único. Compartilhar com o grande Júnior Degani, com minha idolatrada irmã Marelena Degani, mais o Thiago, a Márcia e o sensacional Bruninho foi algo inesquecível.









A rosa desfolhada

Tento compor o nosso amor
Dentro da tua ausência
Toda a loucura, todo o martírio
De uma paixão imensa

Teu toca-discos, nosso retrato
Um tempo descuidado
Tudo pisado, tudo partido
Tudo no chão jogado

E em cada canto
Teu desencanto
Tua melancolia
Teu triste vulto desesperado

Ante o que eu te dizia
E logo o espanto e logo o insulto
O amor dilacerado
E logo o pranto ante a agonia

Do fato consumado
Silenciosa
Ficou a rosa
No chão despetalada

Que eu com meus dedos tentei a medo
Reconstruir do nada:
O teu perfume, teus doces pêlos

A tua pele amada
Tudo desfeito, tudo perdido
A rosa desfolhada

Vinicius de Moraes

sábado, novembro 20, 2010

PaulinBrazil - 2

Saindo pra São Paulo.


Dá a surpresa de ser

Dá a surpresa de ser.
É alta, de um louro escuro,
faz bem só pensar em ver
seu corpo meio maduro.
Seus seios altos parecem
(se ela estivesse deitada)
dois montinhos que amanhecem
sem ter que haver madrugada.
E a mão do seu braço branco
assenta em palmo espalhado
sobre a saliência do flanco
do seu relevo tapado.
Apetece como um barco.
Tem qualquer coisa de gnomo.
Meu Deus, quando é que eu embarco?
Ó fome, quando é que eu como?

Alvaro de Campos

PaulinBrazil -1

Eu e o Júnior ainda não estamos acreditando. Mas daqui umas horas estaremos indo numa epopéia que com certeza não esqueceremos.

Amor e Medo

Estou te amando e não percebo,
porque, certo, tenho medo.
Estou te amando, sim, concedo,
mas te amando tanto
que nem a mim mesmo
revelo este segredo.

Affonso Romano de Sant´Anna

Imagem


Tão brando é o movimento
das estrelas, da lua,
das nuvens e do vento,
que se desenha a tua
face no firmamento.

Desenha-se tão pura
como nunca a tiveste,
nem nenhuma criatura.
Pois é sombra celeste
da terrena aventura.

Como um cristal se aquieta
minha vida no sono,
venturosa e completa.
E teu rosto aprisiono
em grave luz secreta.

Teu silêncio em meu peito
de tal maneira existe,
reconhecido e aceito,
que chego a ficar triste
de vê-lo tão perfeito.

E não pergunto nada.
Espero que amanheça,
e a cor da madrugada
pouse na tua cabeça
uma rosa encarnada.

Cecilia Meireles

O Homem e a água

Deixa-me ser o que sou,
o que sempre fui,
um rio que vai fluindo.

E o meu destino é seguir… seguir para o mar.
O mar onde tudo recomeça…
Onde tudo se refaz…

Mário Quintana

sexta-feira, novembro 19, 2010

Felicidade e alegria

A Mara Degani, que é uma pessoa fora dos padrões, que apesar (e sobretudo) de todo o aparato profissional que uma psicanalista traz consigo, é uma profunda conhecedora da alma humana (além de ser a mulher do Júnior Degani, que apenas por isso, já a faz uma profunda conhecedora da alma humana rsrs...), me enviou esse texto do Contardo Calligaris. O texto além de muito bem escrito, cita dois filmes que eu particularmente adoro e regularmente assisto novamente. Já perdi a conta das vezes que os assisti. Por isso, acho que é bom que os assista para entender também o que o Contardo diz no texto.

Nos últimos tempos, tenho pensado muito sobre felicidade e alegria. E sempre acabo num beco. Sem saída, claro. Outro dia li um texto que o Luciano Araújo repassou no twitter que também fala sobre essa coisa de precisar de elementos exógenos para ser feliz.

E a pergunta permanece: o que é ser feliz?


Felicidade e alegria
Cotardo Calligaris - Folha de SP 18/11/2010

Quando eu era criança ou adolescente, pensava que a felicidade só chegaria quando eu fosse adulto, ou seja, autônomo, respeitado e reconhecido pelos outros como dono exclusivo do meu nariz.

Contrariando essa minha previsão, alguns adultos me diziam que eu precisava aproveitar bastante minha infância ou adolescência para ser feliz, pois, uma vez chegado à idade adulta, eu constataria que a vida era feita de obrigações, renúncias, decepções e duro labor. Por sorte, meus pais nunca disseram nada disso; eles deixaram a tarefa de articular essas inanidades a amigos, parentes ou pedagogos desavisados; graças a esse silêncio dos meus pais, pude decretar o seguinte: os adultos que afirmavam que a infância era o único tempo feliz da vida deviam ser, fundamentalmente, hipócritas; com isso, evitei uma depressão profunda pois, uma vez que a infância e a adolescência, que eu estava vivendo, não eram paraíso algum (nunca são), qual esperança me sobraria se eu acreditasse que a vida adulta seria fundamentalmente uma decepção?

Cheguei à conclusão de que, ao longo da vida, nossa ideia da felicidade muda: quando a gente é criança ou adolescente, a felicidade é algo que será possível no futuro, na idade adulta; quando a gente é adulto, a felicidade é algo que já se foi: a lembrança idealizada (e falsa) da infância e da adolescência como épocas felizes. Em suma, a felicidade é uma quimera que seria sempre própria de uma outra época da vida -que ainda não chegou ou que já passou.

No filme de Arnaldo Jabor, "A Suprema Felicidade", que está em cartaz atualmente, o avô (extraordinário Marco Nanini) confia ao neto que a felicidade não existe e acrescenta que, na vida, é possível, no máximo, ser alegre. Claro, concordo com o avô do filme. E há mais: para aproveitar a vida, o que importa é a alegria, muito mais do que a felicidade. Então, o que é a alegria?

Ser alegre não significa necessariamente ser brincalhão. Nada contra ter a piada pronta, mas a alegria é muito mais do que isso: ser alegre é gostar de viver mesmo quando as coisas não dão certo ou quando a vida nos castiga. É possível, aliás, ser alegre até na tristeza ou no luto, da mesma forma que, uma vez que somos obrigados a sentar à mesa diante de pratos que não são nossos preferidos ou dos quais não gostamos, é melhor saboreá-los do que tragá-los com pressa e sem mastigar. Melhor, digo, porque a riqueza da experiência compensa seu caráter eventualmente penoso. Essa alegria, de longe preferível à felicidade, é reconhecível sobretudo no exercício da memória, quando olhamos para trás e narramos nossa vida para quem quiser ouvir ou para nós mesmos. Alguém perguntará: é reconhecível como?

Pois é, para quem consegue ser alegre, a lembrança do passado sempre tem um encanto que justifica a vida. Tento explicar melhor. Para que nossa vida se justifique, não é preciso narrar o passado de forma que ele dê sentido à existência. Não é preciso que cada evento da vida prepare o seguinte. Tampouco é preciso que o desfecho final seja sublime (descobri a penicilina, solucionei o problema do Oriente Médio, mereci o Paraíso). Para justificar a vida, bastam as experiências (agradáveis ou não) que a vida nos proporciona, à condição que a gente se autorize a vivê-las plenamente.

Ora, nossa alegria encanta o mundo, justamente, porque ela enxerga e nos permite sentir o que há de extraordinário na vida de cada dia, como ela é. É óbvio que não consegui explicar o que são a alegria e o encanto da vida. Talvez eles possam apenas ser mostrados: procure-os em "Amarcord" (1973), de Federico Fellini, em "Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas" (2003), de Tim Burton ou no filme de Jabor. "A Suprema Felicidade" me comoveu por isto, por ter a sabedoria terna de quem vive com alegria e, portanto, no encantamento.

Segundo Max Weber (1864-1920), a racionalidade do mundo industrial teria acabado com o encanto do mundo. Ultimamente, bruxos, vampiros, lobisomens, deuses e espíritos andam por aí (e pelas telas de cinema); aparentemente, eles nos ajudam a reencantar o mundo. Ótimo, mas, para reencantar o mundo, não precisamos de intervenções sobrenaturais. Para reencantar o mundo, é suficiente descobrir que o verdadeiro encanto da vida é a vida mesmo.

quinta-feira, novembro 18, 2010

Capítulos

"Enquanto não encerramos um capítulo, não podemos partir para o próximo. Por isso é tão importante deixar certas coisas irem embora."

William Shakespeare

Contágio

segunda-feira, novembro 15, 2010

Uma pequena folha


Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.

Pablo Neruda

É assim que te quero

É assim que te quero, amor,
assim, amor, é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas
os cabelos e como
a tua boca sorri,
ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras,
é assim que te quero, amada,
Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei, nem donde
vem nem para onde vai,
apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,
espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz
e sombra és.
Chegastes à minha vida
com o que trazias,
feita
de luz e pão e sombra, eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi, que o leiam aqui
e retrocedam hoje porque é cedo
para tais argumentos.
Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha
que há-de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nossos lábios,
como um beijo caído
das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura
de um amor verdadeiro.

Pablo Neruda

Solidariedade

Você está bêbado quando começa a sentir solidariedade e não consegue pronunciar esta palavra.

Millor Fernandes

Afinal, o que querem as mulheres?

Adorei um texto que li de um blog que sigo. Deixo aqui o link pra ele, mas quis publicar também o texto no meu. Acho que a Carol Marques não vai se importar...

Enfim, essa série da Globo me inspirou.

Afinal, o que querem as mulheres? Afinal, o que nós queremos? Afinal, o que eu quero? Afinal, nem elas sabem, nem a gente sabe, nem eu sei.

Eu quero ser independente de marido, que ele cuide do seu dinheiro e eu do meu, mas ele bem que podia sustentar a casa e ser super rico, afinal, eu quero é ser madame.

Eu quero ter o cabelo liso, a pele lisa, a barriga lisa, mas não cai nada bem uma mulher totalmente lisa, sem uma carne, sem ondas pelo cabelo e sem uma celulitezinha ali no canto, afinal, eu quero é ser gostosa naturalmente.

Eu quero ser totalmente fiel ao meu marido, ser honesta dentro e fora de casa, falar pra todo mundo que eu nunca traí ninguém, mas é tão emocionante flertar com o diretor do colégio das crianças, contar do beijo roubado do vizinho pras amigas, afinal, eu quero é ser livre.

Eu quero engravidar, ser uma boa mãe, viver para meus filhos até chegar o momento de cada um deles seguir a vida longe de mim, mas engravidar faz o peito cair, faz a barriga ter estria e se for parto normal vai me deixar larga, afinal, mulher que é mulher não precisa ter filhos, basta ser gostosa eternamente.

Eu quero casar, morar com o amor da minha vida e ser feliz para sempre, mas ser solteira é tão bom, não dar satisfação é ótimo, afinal, variar de homem faz parte do instinto feminino.

Eu quero ser lésbica, ficar só com mulheres, chega de homens peludos, mas esses homens peludos até que são ótimos amantes, afinal, pode ser peludo, desde que entre gostoso.

Eu quero fazer sexo anal, falar para as amigas que é o máximo, que eu consigo, que não tem problema e que é tudo preconceito, mas se bem que pode ficar só na frente mesmo, afinal quem dá o cu é quem tem próstata pra sentir prazer.

Eu quero tudo, quero fazer de tudo, viver de tudo, comer de tudo, cheirar de tudo e ouvir de tudo, mas acho que o jeito é ficar quieta em casa mesmo, afinal, tudo que eu quero é: nada.

Modigliani - 5

quinta-feira, novembro 11, 2010

Holo

Quem se lembra da mensagem holográfica da Princesa Lea em Star Wars?



Os japoneses saíram na frente...



PaulinBrazil

Paul chegando...


quarta-feira, novembro 10, 2010

Modigliani - 4

Navegar

Fiz de minha vida um navio
E dos meus sonhos fundo mar
Lancei meu navio na água
E deixei o vento levar.

A brisa que sopra mansa
Acalenta as ondas do mar
E por mais que ele balance
Seu controle há de voltar.

Voltar para as mãos seguras
Que norteiam o meu navegar
A seguir os caminhos às escuras
Sob a auréola do doce luar.

E a luz que o iluminar
Com o brilho do amanhecer
Certamente vai me mostrar
As espumas do meu viver.

Mas se um dia um recife aflorar
à frente desse navio
Não sei se vou suportar
Traçar mais esse desvio.

Cansei-me de navegar, cansei-me de tanto sofrer.
Se é pra viver nessa mágoa
Prefiro,em vez de aportar,
Abrir com as minhas mãos a água
Pra ver o meu navio naufragar.


Cecília Meireles

domingo, novembro 07, 2010

Senna da Silva

Ele estaria hoje com 50 anos, mas alguma coisa no destino fez que ele não estivesse aqui agora. Mas o que ele deixou escrito nos corações dos brasileiros e de todos os amantes do automobilismo pelo mundo não se apagará.

Num domingo desse, com Interlagos e tudo, não dá pra não lembrar do cara. Ele não era. Senna é o cara. 10 motivos pra dizer isso.

Modigliani - 3

sábado, novembro 06, 2010

Espreita


Palavras que saiam daqui
Não farão o que de certo seria
Imagens que apareçam ali
Não dirão o que eu queria

Enfoques diversos
Dispersos olhares
Milhares de toques
Interessantíssimos

Mas e assim
De um talvez
Ou de um sim
O quer vi ou que não
A certeza ou o senão
De uma vez ou não
Devagar ou de sopetão
Virão a mim
Devagar
Ao vagar das nuvens
Ao apagar do Sol
Ao raiar do dia

Cântico

(...)
Oh, deixa-me brincar, que te amo tanto
Que se não brinco, choro, e desse pranto
Desse pranto sem dor, que é o único amigo
Das horas más em que não estás comigo.

Vinícius de Moraes, em um trechinho de Cântico

Quando eu tiver setenta anos

quando eu tiver setenta anos
então vai acabar esta adolescência
vou largar da vida louca
e terminar minha livre docência

vou fazer o que meu pai quer
começar a vida com passo perfeito
vou fazer o que minha mãe deseja
aproveitar as oportunidades

de virar um pilar da sociedade
e terminar meu curso de direito
então ver tudo em sã consciência
quando acabar esta adolescência

Paulo Leminski

Modigliani - 2

quinta-feira, novembro 04, 2010

Bruno Bething do Ulisses Bething

Há muitos anos tínhamos uma turma. Ainda tenho várias. Mas há muitos anos a turma era feita de Super Heróis. Tinha o Homem de Ferro (aliás, dois da turma disputavam quem seria ele). Tinha Thor e tinha Capitão América. Ulisses era o Thor (se não me falha a memória que insiste em viajar...). Ulisses Bething morava em Uberlândia porque seu pai veio construir a Estação Ferroviária. Ulisses é sim sobrinho do Joelmir. Ulisses é um amigo que foi embora (afinal, a Estação Ferroviária ficou pronta...), mas ficou na lembrança dos amigos daqui. Do Júnior, do Keller, do Kenner, do Zezé e de quem compartilhou de sua presença.

Ulisses voltou por aqui uma vez, mas isso faz tempo. Ulisses se tornou um arquiteto, artista que sempre foi. Eu me tornei um engenheiro, “atirador” para todos os lados como sempre fui. E continuei a dar atenção ao que me chamava atenção, como escrever aqui.

Mas o filho do Ulisses, o Bruno, se tornou um músico por sangue materno. E vai de blues (que alívio!...). No vídeo, um trechinho de um som que ajuda a elevar a alma.