Deponho
suponho e descrevo
a pulso
subindo pela fímbria
do despido
Porque nada é verdade
se eu invento
o avesso daquilo que é vestido
Maria Teresa Horta
NO MUNDO DOS BLOGS. Todo mundo está se ligando, se conectando, se blogando. Os sinais de fumaça, os tambores, os pombos-correio, as cartas de papel, os telefonemas. Os blogs. Para começar, para ver como é que fica, vamos falar de tudo...
terça-feira, março 27, 2012
A Condição Humana
Das coisas tangíveis, as menos duráveis são as necessárias ao próprio processo da vida. O seu consumo mal sobrevive ao ato da sua produção; no dizer de Locke, todas essas “coisas boas” que são “realmente úteis à vida do homem”, à “necessidade de subsistir”, são “geralmente de curta duração, de tal modo que – se não forem consumidas pelo uso – se deteriorarão e perecerão por si mesmas”.
Hannah Arendt, in A Condição Humana
Hannah Arendt, in A Condição Humana
domingo, março 25, 2012
O poste ao contrário do Tio Vinício Degani
Há muitos anos os primos iam se encontrar em Batatais. Ou Ribeirão Preto. Algumas vezes fui no Simca do Tio Vinício ou nos últimos tempos, num Opala lindo e inesquecível.
No caminho, naquela viagem que nos parecia longa, meu tio dizia que era para nós, eu, Júnior Degani e mais quem estivesse no banco de trás, olharmos para fora, ao lado direito de quem ia para o estado de São Paulo. Era para nós prestarmos atenção nas linhas de transmissão porque, dizia ele, havia um poste que teria sido colocado ao contrário de todos os demais. Todos os postes tinham três ganchos, com dois deles para o lado do campo e um deles para o lado da rodovia. Apenas um poste teria dois ganchos para o lado da rodovia.
Muitos anos se passaram e comentei essa lembrança com o Júnior. Ele disse que achava que o pai dele falava isso apenas para nós ficarmos quietos, dar sossego. Seria uma maneira de fazer aquelas crianças inquietas acharem algo para fazer e se concentrarem em algo: procurar um poste ao contrário.
Tempos depois, profissionalmente tendo de ir ao estado de São Paulo, me deparei com uma imagem que tentei captar, mesmo de maneira amadora. O tal poste que o Tio Vinício falava ainda está lá, num pedaço de estrada entre Uberlândia e Uberaba. Depois de fotografar, fiquei pensando que não é só o poste ao contrário do Tio Vinício que permanece ali. Algumas lembranças de tempos lindos ainda permanecem e me enchem de alegria em ter vivido por aqui com pessoas lindas e em momentos lindos. Tem sido muito bom ter estado por aqui.
No caminho, naquela viagem que nos parecia longa, meu tio dizia que era para nós, eu, Júnior Degani e mais quem estivesse no banco de trás, olharmos para fora, ao lado direito de quem ia para o estado de São Paulo. Era para nós prestarmos atenção nas linhas de transmissão porque, dizia ele, havia um poste que teria sido colocado ao contrário de todos os demais. Todos os postes tinham três ganchos, com dois deles para o lado do campo e um deles para o lado da rodovia. Apenas um poste teria dois ganchos para o lado da rodovia.
Muitos anos se passaram e comentei essa lembrança com o Júnior. Ele disse que achava que o pai dele falava isso apenas para nós ficarmos quietos, dar sossego. Seria uma maneira de fazer aquelas crianças inquietas acharem algo para fazer e se concentrarem em algo: procurar um poste ao contrário.
Tempos depois, profissionalmente tendo de ir ao estado de São Paulo, me deparei com uma imagem que tentei captar, mesmo de maneira amadora. O tal poste que o Tio Vinício falava ainda está lá, num pedaço de estrada entre Uberlândia e Uberaba. Depois de fotografar, fiquei pensando que não é só o poste ao contrário do Tio Vinício que permanece ali. Algumas lembranças de tempos lindos ainda permanecem e me enchem de alegria em ter vivido por aqui com pessoas lindas e em momentos lindos. Tem sido muito bom ter estado por aqui.
Tags: Vinício Degani; Opala; Batatais; Ribeirão Preto; BR050
sexta-feira, março 23, 2012
Um pouco antes
Quando já não for possível encontrar-me
em nenhum ponto da cidade
ou do planeta
pensa
ao veres no horizonte
sobre o mar de Copacabana
uma nesga azul de céu
pensa que resta alguma coisa de mim
por aqui
Não te custará nada imaginar
que estou sorrindo ainda naquela nesga
azul celeste
pouco antes de dissipar-me para sempre
Ferreira Gullar
em nenhum ponto da cidade
ou do planeta
pensa
ao veres no horizonte
sobre o mar de Copacabana
uma nesga azul de céu
pensa que resta alguma coisa de mim
por aqui
Não te custará nada imaginar
que estou sorrindo ainda naquela nesga
azul celeste
pouco antes de dissipar-me para sempre
Ferreira Gullar
quarta-feira, março 21, 2012
Canção de Outono
O outono toca realejo
No pátio da minha vida.
Velha canção, sempre a mesma,
Sob a vidraça descida…
Tristeza? Encanto? Desejo?
Como é possível sabê-lo?
Um gozo incerto e dorido
De carícia a contrapelo…
Partir, ó alma, que dizes?
Colher as horas, em suma…
Mas os caminhos do Outono
Vão dar em parte nenhuma!
Mario Quintana
No pátio da minha vida.
Velha canção, sempre a mesma,
Sob a vidraça descida…
Tristeza? Encanto? Desejo?
Como é possível sabê-lo?
Um gozo incerto e dorido
De carícia a contrapelo…
Partir, ó alma, que dizes?
Colher as horas, em suma…
Mas os caminhos do Outono
Vão dar em parte nenhuma!
Mario Quintana
segunda-feira, março 19, 2012
Os silêncios
Não entendo os silêncios
que tu fazes
nem aquilo que espreitas
só comigo
Se escondes a imagem
e a palavra
e adivinhas aquilo
que não digo
Se te calas
eu oiço e eu invento
Se tu foges
eu sei não te persigo
Estendo-te as mãos
dou-te a minha alma
e continuo a querer
ficar contigo
Maria Teresa Horta
que tu fazes
nem aquilo que espreitas
só comigo
Se escondes a imagem
e a palavra
e adivinhas aquilo
que não digo
Se te calas
eu oiço e eu invento
Se tu foges
eu sei não te persigo
Estendo-te as mãos
dou-te a minha alma
e continuo a querer
ficar contigo
Maria Teresa Horta
terça-feira, março 13, 2012
Dos Filhos
E uma mulher que carregava o filho nos braços disse:
“Fala-nos dos filhos.”
E ele disse:
Vossos filhos não são vossos filhos.
São filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E, embora vivam convosco, a vós não pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Pois eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis faze-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois o arco dos quais vossos filhos, quais setas vivas, são arremessados.
O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com Sua força para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como Ele ama a flecha que voa, ama também o arco, que permanece estável.
Khalil Gibran
“Fala-nos dos filhos.”
E ele disse:
Vossos filhos não são vossos filhos.
São filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E, embora vivam convosco, a vós não pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Pois eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis faze-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois o arco dos quais vossos filhos, quais setas vivas, são arremessados.
O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com Sua força para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como Ele ama a flecha que voa, ama também o arco, que permanece estável.
Khalil Gibran
sexta-feira, março 09, 2012
A Demora
O amor nos condena:
demoras mesmo quando chegas antes.
Porque não é no tempo que eu te espero.
Espero-te antes de haver vida
e és tu quem faz nascer os dias.
Quando chegas
já não sou senão saudade
e as flores
tombam-me dos braços
para dar cor ao chão em que te ergues.
Perdido o lugar
em que te aguardo,
só me resta água no lábio
para aplacar a tua sede.
Envelhecida a palavra,
tomo a lua por minha boca
e a noite, já sem voz
se vai despindo em ti.
O teu vestido tomba
e é uma nuvem.
O teu corpo se deita no meu,
um rio se vai aguando até ser mar.
Mia Couto
demoras mesmo quando chegas antes.
Porque não é no tempo que eu te espero.
Espero-te antes de haver vida
e és tu quem faz nascer os dias.
Quando chegas
já não sou senão saudade
e as flores
tombam-me dos braços
para dar cor ao chão em que te ergues.
Perdido o lugar
em que te aguardo,
só me resta água no lábio
para aplacar a tua sede.
Envelhecida a palavra,
tomo a lua por minha boca
e a noite, já sem voz
se vai despindo em ti.
O teu vestido tomba
e é uma nuvem.
O teu corpo se deita no meu,
um rio se vai aguando até ser mar.
Mia Couto
domingo, março 04, 2012
Minha Canção
Minha canção
será como asas aos teus sonhos
E viajará em teu coração
até a fronteira do desconhecido.
Será como a estrela fiel que brilha no alto
Quando a noite escureça teu caminho.
Minha canção
será uma luz em tuas pupilas,
E guiará teu olhar até à secreta essência das coisas.
E quando minha voz emudeça com a morte,
Seguirás escutando minha melodia
em teu coração transbordante de vida.
Rabindranath Tagore
será como asas aos teus sonhos
E viajará em teu coração
até a fronteira do desconhecido.
Será como a estrela fiel que brilha no alto
Quando a noite escureça teu caminho.
Minha canção
será uma luz em tuas pupilas,
E guiará teu olhar até à secreta essência das coisas.
E quando minha voz emudeça com a morte,
Seguirás escutando minha melodia
em teu coração transbordante de vida.
Rabindranath Tagore
quinta-feira, março 01, 2012
Preciso Dizer que te amo
Quando a gente conversa
Contando casos, besteiras
Tanta coisa em comum
Deixando escapar segredos
E eu não sei que hora dizer
Me dá um medo, que medo
Eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
E eu preciso dizer que eu te amo
Tanto
E até o tempo passa arrastado
Só pra eu ficar do teu lado
Você me chora dores de outro amor
Se abre e acaba comigo
E nessa novela eu não quero
Ser teu amigo
É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que eu te amo, tanto
Eu já nem sei se eu tô misturando
Eu perco o sono
Lembrando cada riso teu
Qualquer bandeira
Fechando e abrindo a geladeira
A noite inteira
Eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que eu te amo, tanto
Cazuza
Uma flor chamada tulipa de novo
Em 2006 postei algo aqui que muitos vieram me dizer da maravilha do texto, da real imagem da coisa, de como aquilo os incitaram ao ato.
Deve ser amor
É preciso fé para cortar as unhas,
cuidar dos dentes como bens de empréstimo.
O cobrador invisível bate à porta.
Não durmo, ele também não.
Deve ser amor o que nos deixa unidos
neste avesso de mística.
Por orgulho de pobre
dou por bastante a pouca claridade
e prefiro a vigília antes que ter repouso.
Adélia Prado
cuidar dos dentes como bens de empréstimo.
O cobrador invisível bate à porta.
Não durmo, ele também não.
Deve ser amor o que nos deixa unidos
neste avesso de mística.
Por orgulho de pobre
dou por bastante a pouca claridade
e prefiro a vigília antes que ter repouso.
Adélia Prado
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