quarta-feira, janeiro 27, 2010

iPad

Meu filho nunca leu um jornal de papel. Mas sabe coisas incríveis. Talvez ele não tenha uma opinião formada sobre o Zelaya. E por que teria? Sua atenção é concentrada em coisas totalmente distintas das minhas, não só pela diferença de idade, mas pela maneira como nós fomos embrulhados pelos tempos, pelas eras, pelos acontecimentos. O conteúdo que ele procura é diferente do meu e as mídias para isso também são diferentes, por mais que eu corra pra não perder o bonde da História (Que lugar comum mais velho!).

Jornais de papel, fotografias, livros, vídeos e outras coisas que talvez eu nem saiba ― mas talvez meu filho saiba ― acabaram de ser sacudidos com mais um gadget lançado pela Apple e seu lendário fundador Steve Jobs.

Onde poderemos chegar com algo como o iPad?



terça-feira, janeiro 26, 2010

Flor de Açucena

Quando acariciei o teu dorso,
Campo de trigo dourado,
Minha mão ficou pequena
Como uma flor de açucena
Que delicada desmaia
Sob o peso do orvalho.

Mas meu coração cresceu
E cantou como um menino
Deslumbrado pelo brilho
Estrelado dos teus olhos.

Thiago de Mello

domingo, janeiro 24, 2010

Há uma luz que nunca se apaga



Take me out tonight
Where there's music and there's people who are young
and alive,
Driving in your car
I never never want to go home
Because I haven't got one, anymore

Take me out tonight
Because I want to see people and I want to see life,
Driving in your car
Oh please don't drop me home
Because It's not my home, It's their home
And I'm welcome no more

And if a double-decker bus crashes into us
To die by your side, such a heavenly way to die
And if a ten-ton truck kills the both of us
To die by your side
Well the pleasure and the privilege is mine

Take me out tonight
Oh take me anywhere, I don't care, I don't care, I
don't care
And in the darkened underpass I thought oh God, my
chance has come at last
But then a strange fear gripped me and I just couldn't
ask
Take me out tonight
Take anywhere, I don't care, I don't care, I don't
care
Just driving in your car
I never never want to go home
Because I haven't got one, Oh Lord
No I haven't got one.

There is a light that never goes out...

Morrissey/Marr

sábado, janeiro 23, 2010

Poema em linha reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Fernando Pessoa

quinta-feira, janeiro 21, 2010

Ali

Ali bem perto
A brasa abrasa o olho
Vermelha assim
Meio carmim
Meio pra mim
De um jeito
Que me olha
Dum efeito
Que molha
A face
O peito e sua camisa

Ali, decerto
Abraça a raça
E traça
Um roteiro que imagina
Ser estrada
Ser a sina
Que enfim leva
Da treva
Ao dia de Sol

Last Goodbye




This is our last goodbye
I hate to feel the love between us die
But it's over
Just hear this and then i'll go
You gave me more to live for
More than you'll ever know

This is our last embrace
Must I dream and always see your face
Why can't we overcome this wall
Well, maybe it's just because i didn't know you at all

Kiss me, please kiss me
But kiss me out of desire, babe, and not consolation
You know it makes me so angry 'cause i know that in time
I'll only make you cry, this is our last goodbye

Did you say 'no, this can't happen to me,'
And did you rush to the phone to call
Was there a voice unkind in the back of your mind
Saying maybe you didn't know him at all
You didn't know him at all, oh, you didn't know

Well, the bells out in the church tower chime
Burning clues into this heart of mine
Thinking so hard on her soft eyes and the memories
Offer signs that it's over... it's over


Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.


Fernando Pessoa

quarta-feira, janeiro 20, 2010

Aniversário

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...


Fernando Pessoa

terça-feira, janeiro 19, 2010

Faculdade

Alguns de meus melhores momentos, de minhas melhores lembranças vêm dos tempos de faculdade. Não fui um aluno exemplar, brilhante. Mas também não fui assim uma lástima. Algumas dessas lembranças são sempre acompanhadas de uma saudade daqueles momentos em que eu tinha a certeza que conseguiria mudar o mundo. O mundo mudou. Nós todos mudamos. Mas outras coisas ficaram iguais, como essas lembranças. Algumas madrugadas estudando, outras tantas notivagamente cantando serenatas regadas a hi-fi. Beto Guedes falava sobre “o destino que se cumpriu” e a gente nem pensava em cumprir algum.


Sempre digo para quem pensa em cursar uma faculdade que o melhor dela é a convivência que temos naquela idade. As matérias estão nos livros. Os amigos, nos corredores, na cantina, nas escadas, nas caronas, na charanga, nas olimpíadas universitárias, nos papos na biblioteca. Nas festas...


Uma dessas festas ficou registrada nas duas fotos aí. Elas têm por volta de trinta anos e muitos desses amigos de faculdade compartilhavam suas esperanças, suas alegrias e suas ansiedades em relação à vida. Alguns desses amigos eu nunca mais vi. Outros se tornaram irmãos. Ainda mais alguns, acabo por ver vez ou outra, troco e-mails. Um deles foi para os EUA e por lá ainda está.


Não vou citar os nomes aqui, com exceção de dois. O Regis Vidal, que me enviou as fotos e era o dono da casa da festa e o Juarez, que na foto com mais gente, está no centro, de camisa listrada, com um copo na mão. Juarez foi embora cedo demais. Demais mesmo. E é das saudades, a que mais aperta o coração daqueles amigos que conviveram mais de perto com ele.


Eu não vou citar nomes. Mas quem estiver em uma dessas poses poderia colocar um comentário neste post se identificando. Poderia dizer algo assim: “Eu sou aquele no canto, quando ainda tinha cabelo.” Será que conseguimos fazer estas fotos chegarem a essa turma toda?





segunda-feira, janeiro 18, 2010

Bem, hoje

Bem, hoje que estou só e posso ver
Com o poder de ver do coração
Quanto não sou, quanto não posso ser,
Quanto, se o for, serei em vão.

Hoje, vou confessar, quero sentir-me
Definitivamente ser ninguém,
E de mim mesmo, altivo, demitir-me
Por não ter procedido bem.

Falhei a tudo, mas sem galhardias,
Nada fui, nada ousei e nada fiz,
Nem colhi nas urtigas dos meus dias
A flor de parecer feliz.

Mas fica sempre, porque o pobre é rico
Em qualquer cousa, se procurar bem,
A grande indiferença com que fico.
Escrevo-o para o lembrar bem.

Fernando Pessoa


sexta-feira, janeiro 15, 2010

Sem título

Luz que aparece na fresta
Que bate na testa
E levanta a cabeça

Brilho que amanheça
Que fale e atesta
Que o dia surgiu

Mesmo que se entristeça
O escuro que se espargiu
Não mais ficará

E o que não tem pressa
Se acomodará
E o que sempre se viu
E o que sempre é assim
Que enfim prevaleça

E o que se dará
Ao não ou ao sim
Será o que sempre se deu
Que sempre será

quinta-feira, janeiro 14, 2010

Camões, um pouco

Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê;
Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê.

Luís de Camões

segunda-feira, janeiro 11, 2010

Estrelinhas

A imagem é linda. E seu conceito também é.

Reproduzo aqui o texto de Cássio Leandro Dal Ri Barbosa, que foi originalmente publicado na coluna Observatório, no G1.


O Caldeirão da Grande Nuvem, ou um estica-e-puxa cósmico


Você consegue imaginar como seria uma maternidade só de bebês gigantes? Meio difícil, mas imagine agora que são estrelas-bebês-gigantes. Mais difícil? Então dê uma olhada nesta última imagem do Hubble. Voilà! Aqui está o maior berçário de estrelas de alta massa conhecido nas nossas vizinhanças.

A Via-Láctea forma um sistema com a galáxia de Andrômeda que domina um aglomerado de galáxias próximas, chamado de Grupo Local. Essas duas galáxias são as maiores das redondezas e as que têm mais matéria desse sistema. Ao redor delas, orbitam dezenas e dezenas de outras galáxias satélites. Bem perto da nossa Via-Láctea existem duas galáxias irregulares que estão bem próximas: a Grande e a Pequena Nuvem de Magalhães. Quem já as viu (é preciso um local bem escuro, no Hemisfério Sul) vê mesmo no céu duas manchas parecidas com nuvens. Essas galáxias estão sofrendo o puxão gravitacional da Via-Láctea e elas já a atravessaram algumas vezes. Tenho um colega que já sugeriu que as extinções em massa na Terra poderiam estar associadas a esses eventos, mas isso é outra história.

O fato é que esse puxa-repuxa que lembra bem um cabo de guerra deforma tanto as Nuvens de Magalhães quanto a Via-Láctea, mas como a massa das Nuvens é bem menor, as coitadas sofrem bem mais. O gás contido nelas se comprime, é “esticado”, esquenta e esfria por períodos de milhões e milhões de anos. Resultado? O maior berçário de estrelas de alta massa conhecido nas nossas vizinhaças!

A imagem do Hubble mostra o aglomerado de R136 dentro do complexo de 30 Doradus. Cada um destes pontos azuis corresponde a uma estrela com dezenas de vezes a massa do Sol, algumas com mais de cem vezes! Cada uma delas emite um vento de partículas poderoso que vai limpando o meio em que nasceram, por isso esse formato de buraco. No meio deste gás todo, mais estrelas estão se formando e depois de alguns milhões de anos devem aparecer depois de limparem o meio em que estão.

O aglomerado tem por volta de alguns milhões de anos de vida e logo, logo, esses pontos azuis vão começar a explodir. “Logo, logo” significa mais alguns milhões de anos, pois a vida dessas estrelas não chega a 5 milhões de anos às vezes. Imagina só essas estrelas explodindo como supernovas! Um belo show pirotécnico no céus do Sul.



domingo, janeiro 10, 2010

Saudades

Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida.
Quando vejo retratos, quando sinto cheiros,
quando escuto uma voz, quando me lembro do passado,
eu sinto saudades...

Sinto saudades de amigos que nunca mais vi,
de pessoas com quem não mais falei ou cruzei...

Sinto saudades da minha infância,
do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro,
do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser...

Sinto saudades do presente,
que não aproveitei de todo,
lembrando do passado
e apostando no futuro...

Sinto saudades do futuro,
que se idealizado,
provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser...

Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei!
De quem disse que viria
e nem apareceu;
de quem apareceu correndo,
sem me conhecer direito,
de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.

Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito!

Daqueles que não tiveram
como me dizer adeus;
de gente que passou na calçada contrária da minha vida
e que só enxerguei de vislumbre!

Sinto saudades de coisas que tive
e de outras que não tive
mas quis muito ter!

Sinto saudades de coisas
que nem sei se existiram.

Sinto saudades de coisas sérias,
de coisas hilariantes,
de casos, de experiências...

Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia
e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer!

Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar!

Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar,

Sinto saudades das coisas que vivi
e das que deixei passar,
sem curtir na totalidade.

Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que...
não sei onde...
para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi...

Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades
Em japonês, em russo,
em italiano, em inglês...
mas que minha saudade,
por eu ter nascido no Brasil,
só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota.

Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria,
espontaneamente quando
estamos desesperados...
para contar dinheiro... fazer amor...
declarar sentimentos fortes...
seja lá em que lugar do mundo estejamos.

Eu acredito que um simples
"I miss you"
ou seja lá
como possamos traduzir saudade em outra língua,
nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha.

Talvez não exprima corretamente
a imensa falta
que sentimos de coisas
ou pessoas queridas.

E é por isso que eu tenho mais saudades...
Porque encontrei uma palavra
para usar todas as vezes
em que sinto este aperto no peito,
meio nostálgico, meio gostoso,
mas que funciona melhor
do que um sinal vital
quando se quer falar de vida
e de sentimentos.

Ela é a prova inequívoca
de que somos sensíveis!
De que amamos muito
o que tivemos
e lamentamos as coisas boas
que perdemos ao longo da nossa existência...

Clarice Lispector


Neruda

Nega-me o pão, o ar,
A luz, a primavera,
Mas nunca o teu riso,
Porque então morreria.



sábado, janeiro 09, 2010

Cedo?

Esse texto saiu no The New York Times e achei interessante colocá-lo aqui. Num post lá atrás falei sobre o questionamento de ser tarde. Nesse texto, o questionamento é se é cedo.

É um outro aspecto interessante.

Deixar para amanhã o o que se pode aproveitar hoje pode ser um vício

Por John Tierney
The New York Times

De uma vez por todas, cientistas sociais descobriram uma falha na psique humana que não será tediosa de corrigir. Você pode nem precisar de um grupo de apoio. Você pode até tentar por conta própria, começando com esta simples resolução de ano novo: divirta-se... agora!

Em seguida, você só precisa da força para descontar seus vale-presentes, beber aquela garrafa especial de vinho, resgatar suas milhas aéreas e tirar aquelas férias que você sempre prometeu a si mesmo. Caso sua determinação enfraqueça, não sucumba à culpa ou à vergonha. Reconheça quem você é: um procrastinador de prazer em recuperação.

Parece estranho, mas na verdade essa é uma forma de procrastinação bastante disseminada – pergunte às linhas aéreas e outros comerciantes que economizam bilhões de dólares anualmente com certificados de compra não-resgatados. Ou aos poetas que continuam produzindo exortações a aproveitar o dia e colher botões de rosas.

Mas levou um tempo para psicólogos e economistas comportamentais analisarem essa condição. Agora eles começaram a explorar o estranho impulso de deixar para amanhã o que poderia ser aproveitado hoje.

Por que, por exemplo, é tão difícil encontrar tempo para visitar marcos históricos em seu próprio quintal?

Pessoas que se mudaram para Chicago, Dallas e Londres visitam menos marcos históricos locais ao longo de seu primeiro ano do que o turista médio visita numa estada de duas semanas, segundo um estudo conduzido por Suzanne B. Shu e Ayelet Gneezy, professores de marketing na Universidade da Califórnia, respectivamente em Los Angeles e em San Diego.

Os habitantes de Chicago no estudo visitaram mais marcos em outras cidades do que na sua, e mesmo sua quantidade relativamente pequena de turismo era feita basicamente para entreter visitantes de fora. Fora isso, o único momento em que os moradores de Chicago corriam para ver os marcos locais era quando estava prestes a se mudar para outra cidade, quando o prazo final inspirava paixões repentinas por passeios arquiteturais e visitas a museus.

Quando não há prazos imediatos, somos suscetíveis a adiar uma ida ao zoológico neste final de semana porque deduzimos que estaremos menos ocupados no próximo – ou no seguinte, ou no próximo verão. Esse é o mesmo tipo de pensamento que nos faz guardar o vale-presente no armário porque esperamos ter mais tempo para compras no futuro.

Estamos tentando fazer uma análise de custo-benefício do tempo versus o prazer ou o dinheiro a ser ganho, mas não somos precisos em nossas estimativas de "negligência de recursos", como é definido por Gal Zauberman e John G. Lynch. Esses economistas comportamentais descobriram que, quando as pessoas tinham de prever quanto dinheiro e tempo adicionais teriam no futuro, elas realisticamente supunham que o dinheiro seria curto – mas esperavam que tempo livre se materializasse magicamente.

Portanto, você tem maiores chances de concordar com um compromisso no próximo ano, como fazer um discurso, que você recusaria caso tivesse de encontrar tempo para ele no próximo mês. Isso produz o que os pesquisadores chamam de efeito "Sim... Droga!": quando chega a hora do discurso no ano seguinte, você descobre amargamente que ainda está ocupado como nunca.

Shu e Gneezy demonstraram outro efeito dessa falácia, distribuindo vale-presentes para troca por ingressos de cinema e bolos franceses. Algumas pessoas receberam certificados que expiravam em duas ou três semanas; outros valiam por seis a oito semanas.

As pessoas que receberam os certificados de validade mais longa ficaram mais confiantes de que resgatariam os presentes – uma suposição bastante lógica, dado todo o tempo adicional de que dispunham. Todavia, eles simplesmente ficaram adiando, e acabaram ficando mais inclinados a deixar de resgatar os presentes do que as pessoas com os certificados de curto prazo.

Uma vez que você começa a procrastinar o prazer, isso pode se tornar um processo autoperpetuador caso você fixe em algum nirvana imaginado. Quanto mais você espera para abrir aquela garrafa de vinho premiada, mais especial tem de ser a ocasião.

Se está determinado a obter o máximo absoluto daquelas milhas aéreas, você pode acabar desperdiçando-as, como Shu descobriu num experimento oferecendo às pessoas uma chance de usar cupons de desconto na compra de uma série de passagens de avião. Quando os sujeitos eram informados de que teriam uma chance de um voo grátis valendo mil dólares, eles desprezaram prêmios de menor valor e se agarraram a seus cupons por tanto tempo que, no fim, tiveram de usá-los para voos muito mais baratos.

"As pessoas podem se tornar exageradamente focadas num ideal", disse Shu. "Mesmo quando sabem que é improvável, elas ficam tão focadas no cenário perfeito que bloqueiam todo o resto. Ou elas preveem que irão se lamentar mais tarde caso aceitem a segunda melhor opção para perceber que a melhor ainda está disponível. Mas essas pessoas não percebem que o arrependimento serve aos dois lados. Elas terminarão com algo pior e se arrependerão de não terem aceitado a segunda melhor".

Porém, mesmo se você conhece toda essa pesquisa, como aplicar essas lições? Como você pode evitar a tentação de postergar o prazer? (Você pode oferecer sugestões clicando aqui).

Uma estratégia imediata, segundo Shu, é trocar rapidamente quaisquer vale-presentes recebidos nessa temporada de festas. "O maior perigo é eles serem esquecidos e expirarem", disse ela. "Um dos melhores presentes que você pode dar a quem lhe presenteou é usá-lo rapidamente, e então dizer a ele o quanto você gostou. O arrependimento por não usar o presente será maior do que o arrependimento de usá-lo numa ocasião imperfeita, para você e especialmente para a pessoa que o deu".

Outra tática é definir prazos para si mesmo. Resgate as milhas até o verão, mesmo que você não possa sair numa volta ao mundo com elas. Em vez de esperar por uma ocasião especial para se entregar, crie uma. Shu cita positivamente o pioneiro trabalho terapêutico de Dorothy J. Gaiter e John Brecher, que, durante a década passada, usaram sua coluna sobre vinhos no Wall Street Journal para proclamar o último sábado de fevereiro como "Noite do Abra Aquele Vinho".

Mas você não precisa esperar até 27 de fevereiro. Lembre-se do conselho oferecido no filme "Sideways" ao personagem Miles, que guardava uma garrafa de Cheval Blanc 1961 há tanto tempo que o vinho já corria o risco de estragar. Quando Miles diz estar esperando por uma ocasião especial, sua amiga Maya coloca a questão em perspectiva:

"O dia em que você abrir um Cheval Blanc de 1961, essa é a ocasião especial".

Daisy beija Dodi

Foto: Norbert Millauer/AFP Photo

segunda-feira, janeiro 04, 2010

Soundgarden is back

Separados desde 1997, os caras do Soundgarden estão planejando uma volta. O vocalista Chris Cornell e mais a turma do Rage Against the Machine, menos o Zack de la Rocha, criaram o Audioslave, que acabou marcando a cena do rock. O show que fizeram em Cuba disse bem o que era essa banda que acabou em 2007.

O Cornell acabou fazendo trilha do 007, mas agora parece que o Soundgarden vai voltar. Mas eles ainda esperam uma brechinha na agenda do Pearl Jam, cujo baterista é, desde 1998, o Matt Cameron, antigo batera do Soundgarden.

Esse vídeo aí fez sucesso na MTV na época, com aquelas deformações meio que lisérgicas. Doooooido.




Michael Jackson, Lenny Kravitz, Sony

Uma música do Michael Jackson, com participação do Lenny Kravitz apareceu na net. Neste instante, a Sony já trabalha arduamente pra retirar tudo a respeito da web.

Quem sabe você ainda escuta aqui?




domingo, janeiro 03, 2010

In my life

Fechei o blog em 2009 com Beatles e começo 2010 com Beatles. Faz bem. Pra alma, pro coração, pra vida.
Mas vou usar a voz linda e cheia de sotaque escocês do Sean Connery pra falar um pouco da maravilha que é poder conviver durante toda a vida com esses caras, como diz o Júnior Degani. Eles nos conduziram e nos conduzirão. All these friends and lovers...



There are places I remember
All my life though some have changed
Some forever not for better
Some have gone and some remain

All these places had their moments
With lovers and friends I still can recall
Some are dead and some are living
In my life I've loved them all

But of all these friends and lovers
There is no one compared with you
And these memories lose their meaning
When I think of love as something new

Though I know I'll never lose affection
For people and things that went before
I know I'll often stop and think about them
In my life I'll love you more

Though I know I'll never lose affection
For people and things that went before
I know I'll often stop and think about them
In my life I'll love you more

In my life I'll love you more...



Há lugares de que me lembro
Toda minha vida, apesar de alguns terem mudado
Alguns para sempre, não para melhor
Alguns se foram, e alguns permanecem

Todos esses lugares tem seus momentos
Com amores e amigos que eu ainda me lembro
Alguns estão mortos e alguns ainda vivem
Em minha vida, eu amei todos eles

Mas de todos esses amigos e amores
Não tem nenhum que se compare a você
E essas memórias perdem o sentido
Quando eu penso no amor como algo novo

Apesar de saber que nunca vou perder o amor
Pelas pessoas e coisas que vieram antes
Eu sei que sempre vou parar e pensar neles
Em minha vida, te amo mais

Apesar de saber que nunca vou perder o amor
Pelas pessoas e coisas que vieram antes
Eu sei que sempre vou parar e pensar neles
Em minha vida, te amo mais

Em minha vida, te amo mais