quarta-feira, dezembro 26, 2007

Seu lugar em 2008

Sempre entramos num ano novo mirando em mudanças. Tem sempre algo como “este ano vou fazer isso, este ano não vou fazer aquilo”... Mas a gente sempre esquece que na maioria das vezes são as mudanças que nos miram. Por mais que a gente afirme nossa disposição em tomar um novo rumo, há sempre vetores que nos levam a lugares que não prevíamos. E nem queríamos. E a gente acaba indo pra lugares que nem imaginava estar.

E talvez seja exatamente essa imprevisibilidade que traga a esperança. A esperança de que os tais vetores nos levem a lugares que não prevíamos. Mas que queríamos. Lugares que apenas vislumbramos nos sonhos mais difíceis de se realizar.

Assim, desejo a todos que os ventos da imprevisibilidade os levem a lugares novos, desconhecidos e maravilhosos. Ou a lugares nem tão novos, nem tão desconhecidos, mas assim mesmo, maravilhosos. Mas que seja o seu lugar.

terça-feira, dezembro 25, 2007

Priceless

Algumas coisas não têm preço. Não parece frase de comerciais. É uma frase de comerciais. Mas não têm mesmo. Se parar pra pensar, a gente ia encontrar dezenas delas. Mas um comercial que está sendo vinculado por estes tempos de Natal mostra pessoas voltando pra casa. Isso não tem preço. Pessoas se encontrando, se abraçando depois de tempos e tempos sem se tocar. Se tocar. Isso não tem preço. Palavras digitadas nunca chegarão aos pés de um toque, de um abraço. Um abraço acompanhado daquela música então... Isso não tem preço.

segunda-feira, dezembro 24, 2007

Uma tarde numa véspera de Natal

Minha mãe era uma pessoa especial. Toda mãe é. Mas quem conheceu a minha sabe do que eu estou falando. Era uma guerreira. Eu queria ter herdado metade de sua garra. Mas herdei muita coisa. Quem a conheceu e me conhece sabe do que eu estou falando. E quem é que não se lembra de sua mãe numa data como essa? Me lembro de tanta coisa, mas queria dizer aqui de uma coisa simples, que durante muitos anos me fez ficar com ela num dia como esse.

Dona Laura cozinhava maravilhosamente. Quem a conheceu sabe do que eu estou falando. Mas num dia como esse, ela sempre fazia umas roscas trançadas que acabávamos comendo por toda a semana. Não sei a receita, mas me lembro que uma bolinha da massa era colocada num copo d’água e quando ela subia era sinal que estava na hora de colocar no forno. Era o fermento dando o aviso que a massa havia crescido o suficiente. Não tenho a mínima idéia da razão que fez um menino como eu ter a habilidade de ir batendo aqueles ingredientes, sovar a massa, separar os pedaços e com as mãos ainda pequenas, transformá-los em cilindros deliciosos e, três a três, torná-los uma trança quase perfeita. Em seguida, eu colocava algumas uvas passas naqueles “vales” formados pelos gomos da massa, tomava um pequeno pedaço de gaze, embebia numa gema de ovo e besuntava cada uma das roscas. Isso as fariam ficar coradas e vistosas.

Participei desse ritual por muitos e muitos anos. Comecei ainda menino e já muito maior que minha mãe ainda a ajudava. Ela sempre falava que eu fazia muito bem. Não sei se era isso mesmo ou se ela dizia isso pra me agradar. O fato é que eu achava que era bom no assunto. O fato é que eu fazia aquilo não pelas roscas, não pelos elogios. Fazia mesmo pra ficar com ela na cozinha. Fazia pra escutar a voz dela me direcionando. Ficava ali, curtindo aquele tempo, farinha de trigo para todo o lado, um copo de vinho tinto por perto. Ficava beliscando a massa crua e ouvindo ela dizer que aquilo iria crescer na minha barriga. Era muito bom mesmo.

E então, sempre num dia como esse, essa é uma recordação que me vem. As vésperas de Natal eram assim. O presépio estava lá na sala, com o pescador com um peixe sobre a lâmina de espelho e muita serragem em volta. O Menino Jesus só seria colocado na manjedoura à meia noite. Eu fazia questão de me encarregar disso. O dia passava lento e a noite não chegava nunca. A cozinha vivia com pessoas que queriam saber dos preparativos, que queriam tomar um café.

Hoje os dias passam rápido demais. Não sei nem como iniciar a preparação de uma daquelas roscas. Eu deveria ter me esforçado mais e aprendido tudo delas e não só dar-lhes forma. Talvez eu estaria agora preparando uma fornada, ao invés de escrever essas palavras. Eu deveria ter dito a ela o quanto gostava daquelas horas, mas não disse. Não sei qual seria a palavra ideal pra descrever essa falta minha. Sempre fui ruim em vocalizar as palavras, sempre preferi escrevê-las. Mas acho que eu deveria ter dito. Eu deveria ter feito muitas outras coisas.

sábado, dezembro 22, 2007

Sem título

Tempestades em seus olhos

Tempo não mais

Mar não mais

Tempestades em seus olhos

Céu negro do Atlântico

Não mais

E os olhos, e os olhos...


sexta-feira, dezembro 21, 2007

It Never Entered My Mind

Poucos dias após eu postar aqui “Prosas Curtas sobre Separações – 2” recebi retornos. As pessoas continuam tímidas e não deixam comentários. Apenas me falam, comentam. Aí, disse que a intenção seria publicar em papel esta série de pequenos contos. Disse que poderia inclusive traçar ao final uma ficha técnica das obras de arte citadas. Para que as pessoas pudessem ir procurar e sentir um pouco além que a simples leitura do texto. Acharam ótima idéia. Talvez me dê trabalho, mas para este post, faço aqui então, a inclusão, a pedidos. A música é um clássico. Rodgers e Hart foram uma dupla de autores (música e letra) que povoaram filmes e filmes que, com certeza, todos nós já vimos e ouvimos. Aqui, e na prosa, é Miles Davis quem maravilhosamente a expõe em seu trompete tocado na vertical. No link, esqueça o vídeo. Apenas escute a música.

Música: “It Never Entered My Mind”

Autores: Richards Rodgers e Lorentz Hart

Intérprete: Miles Davis

Também foi tema do filme “Noiva em Fuga” com Linda Roberts e Richard Gere

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Perdido

Nexo

Onde

Plexo

Podre

Sexo

Pobre

Sobre

Mim


Louco

Aqui

Peito

Morto

Seio

Miseravelmente longe, longe

Sobre

Ti

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Prosas curtas sobre separações - 2

Há alguns posts atrás incluí um texto que escrevi em 2000. Pra ser mais exato, no dia 21 de Maio. É sobre cinema, é sobre pessoas, é sobre essa coisa a que chamamos viver. É sobre amor, é sobre separação.

Depois que escrevi este texto, resolvi fazer mais. Imaginei fazer uma série. Prosas Curtas sobre Separações. Mas por que o tema? Porque é popular, porque acontece, porque é assim que a vida é. Ao longo dos anos, fui tentando um texto aqui, outro ali. Nada que despertasse aplausos, nada que não fosse assim tão diferente. Mas quis fazer as prosas seguindo uma determinada linha. Quem se atentar, perceberá. Mas algo é claro: tem sempre uma ou mais obras de arte presentes: música, filme, livro, etc. Há sempre um local ou um ambiente que define o clima. Os personagens não têm nomes. Não há referências do que aconteceu e do que acontecerá. Cada um que ler que resolva essa questão.

Então, resolvi publicá-los aqui. Mais uma vez me dizem que estou ausente deste blog. Preciso mesmo estar mais por aqui. Sei que muitos aqui aparecem pra me encontrar. Preciso vir mais. Assim, vou publicar este que já é o segundo (o primeiro, O Último Cinema do Centro pode ser lido por este link). Prometo publicar os demais a cada mês. E, de repente, até escrever mais alguns dentro do mesmo tema.

Aguardo os comentários dos que aqui vem me encontrar.


It Never Entered My Mind

Eram quase onze horas da noite quando a porta bateu às suas costas. A cada lance descido da escada um quase tombo, que seria provocado pela irregularidade entre um degrau e outro, formando um leque de sombras e luzes amareladas. Quando chegou ao térreo, a respiração que já estava difícil pelas narinas entupidas, pareceu piorar pelo esforço de saltar pelos degraus, fazer as curvas nos patamares, se assustar pelos quase tombos. Novamente aquele térreo de luzes apagadas e a procura pelo interruptor do porteiro eletrônico que abria a porta. A tentativa que começou com uma carícia na parede logo se revelou em tapas nervosos que, claro, resultaram na abertura da porta. Esta foi preciso puxar para ser fechada.

Já não chovia mais. O chão da calçada e da rua estava molhado como se alguém o houvesse lavado e puxado a água com um rodo. Não havia enxurrada e as nuvens brancas e baixas se movimentavam em alta velocidade, mostrando que logo o céu se abriria para as estrelas. Mesmo assim, empurrada pelos largos e apressados passos, a água do piso subia pela sola e molhava a parte de cima dos sapatos da cor da roupa daqueles estrangeiros que vão à África em filmes antigos. A água tornava o bico dos sapatos em marrons quase pretos, mas nenhum pingo manchara o resto da roupa. 

Antes de entrar num bar, estilo café – destes de onde as pessoas pouco vêem a rua e de fora não se sabe como está lá dentro –, olhou para os sapatos e, por um átimo de tempo, aquela mancha marron se tornou o principal problema de sua vida. Se arrependeu por os calçar naquela noite, como se soubesse que choveria. Dentro do bar, ninguém se importara pelas manchas marron-escuras num par de sapatos cansados e destituídos de alguma postura nobre e elegante; até porque logo ficariam escondidos por debaixo do estribo do balcão.

O cara que servia bebidas não era o de sempre. Pensou em perguntar onde ele estava, pois um rosto conhecido até que seria bom naquela hora. Mas desistiu. Devia ser o dia de folga, devia estar gripado em casa, devia ter achado coisa melhor que ficar escutando conversa de bêbado. Só pediu uma vodka com limão e girou o pescoço à sua volta para perceber se o haviam percebido. Mas cada pessoa do bar, cada grupo de pessoas só estava interessada no seu micro ambiente. O barulho de copos, de conversas, o barulho de um bar deste tipo as fazia se juntar para compartilhar o assunto. [Não conseguia entender o que tinha acontecido naquela noite. Aquilo não entrava na sua cabeça.] Um surpreendente trompete de Miles Davis – parecia até milagre escutá-lo ali, como na trilha sonora de um filme europeu – desviou sua procura visual pelo ambiente para a atenção auditiva. Tinha quase certeza que aquela música havia sido tema de algum filme. Quis tentar lembrar do nome, o ator, quando havia assistido, mas a atenção se desviou para as pessoas. Então, começou a perceber as palavras de sedução de um casal ao seu lado. Ela de pé, brincando com o salto alto no estribo do balcão e ele sentado no banco, para nivelar os rostos e as palavras. Aquela velha conversa de melhor mulher do mundo, de amor eterno, razão de uma vida... O piano compunha com a bateria tocada com aquelas vassourinhas, dando suavidade à melodia do trompete. E sua memória, já embalada pela vodka, viajou por lembranças, por sons parecidos com aqueles, por palavras parecidas com aquelas, por gestos parecidos com aqueles.

Quando olhou para os lados, não havia mais Miles Davis, nem casal encostado no balcão. Apenas dois homens e uma mulher numa mesa do fundo jogavam fardos de fumaça ao ar pesado que os rodeava. O cara que serviu sua vodka pedia com os olhos que todos fossem embora, que o deixasse ir dormir, largar seu corpo cansado num magro colchão num bagunçado quarto qualquer. Ao pagar a conta é que percebeu que não havia tomado apenas uma vodka. Desconfiou do cara, achou que ele estava querendo cobrar mais que o devido, mas pagou e saiu. E teve a certeza que o cara estava certo. O embaralhar dos passos mostrou que não foi uma nem duas vodkas. O cara nem teria interesse em lhe roubar algumas vodkas.

Suas narinas já não estavam entupidas, pois sentia o vento frio da madrugada a entrar por elas, se misturando ao torpor do álcool destilado. Não podia decidir nada, mas o alto teor de coragem a que foi tomado o empurrava rua afora. Quando deu por si, estava em frente ao prédio que horas antes havia deixado. Um cachorro vira-latas acorda assustado, late esganiçadamente, tenta mostrar posse do lugar próximo à entrada do prédio, mas foge buscando outro lugar para terminar a noite. Os latidos do cão são os únicos sons que podem ser ouvidos na rua afastada e quieta daquele bairro. Apenas eventualmente um carro passa pela rua transversal, com mais movimento já que era uma das ligações com o centro da cidade. Não mais que os sons abafados e afastados que uma cidade emite podia ser ouvido. Era tanto silêncio que, se tentasse, poderia ouvir o ressonar das pessoas dormindo naquele prédio. Afinal eram apenas três andares de um prédio construído bem no alinhamento da rua, com as janelas dos apartamentos voltadas para ela.

Para ter mais visão da fachada do prédio, atravessou a rua, sentou-se na mureta de uma casa, levantou os olhos, buscou a janela mais à esquerda do último apartamento do último andar. As luzes estavam apagadas. Todas as luzes de todos os apartamentos estavam apagadas. Tentava imaginar como estaria o interior do quarto. Se haveria roupas espalhadas pelo chão, se a porta estaria aberta, se haveria perfumes e cheiros. Se havia sons. Se lembrou de Miles Davis e o casal cheio de conversas e intenções. Se lembrou do cara que servia bebidas no bar e sua vontade de ir para casa. Talvez nem teria chegado ao seu magro colchão àquela hora. Se lembrou dos bicos de seus sapatos, encharcados e manchados. Olhou para eles e estavam secos. Seus olhos também não estavam mais molhados. Suas narinas também não estavam mais entupidas. Não entedia a razão, mas se sentia bem. Se fosse num script de um filme metido a sério, talvez tentasse alguma coisa. Um grito, um tiro, um ato qualquer. Mas a única coisa a fazer era se recostar no gramado da casa, também já seco, que se erguia num talude da mureta até uma varanda no alto, cercada por grades, como uma grande gaiola sem pássaros. Ficou a olhar para a fachada do prédio.

As manhãs dos longos dias de Dezembro começam bem cedo e o Sol aquece toda a cidade que se movimenta, agita e faz barulho. Não só a rua transversal agora está movimentada. A cidade toda se envolve numa busca frenética por algo. Molhada pela chuva do dia anterior e aquecida pelo Sol, a grama do talude cresce.

sábado, dezembro 15, 2007

Float on

Recentemente, falei de uns caras dos anos 70 e ninguém sabia quem eram. Os anos 70 foram especiais e provavelmente, virei aqui ainda falar deles. Os caras que digo eram quatro negrões, com as vozes impecáveis que, pelo que me lembro, só fizeram um único sucesso. A música era “Float on” e o grupo se chamava The Floaters. Com esse nome parece que a intenção era essa mesmo.

A música é lindíssima. Alguém dirá que é repetitiva ou qualquer outra coisa. Tenho comigo uma versão ainda maior, de quase doze minutos e de vez em quando a coloco pra tocar no talo. Alguém que não tenha passado pelos anos 70, ao observar as roupas e a coreografia dos caras certamente achará simplesmente ridículas. E são mesmo. Mas quem não foi ridículo um dia?

sábado, novembro 24, 2007

Reto

Eu já havia escutado, mas apenas fui ler suas palavras por volta dos vinte anos. É um poema conhecido que Fernando Pessoa escreveu sob o heteronômio de Álvaro de Campos. Quando o li, ele estava num quadro da parede do apartamento do avô do Luiz Eduardo, o professor Milton Porto. Não sei mais dizer porque eu e o Sílvio íamos estudar na casa do avô dele. Mas era um apartamento grande, antigo, com salas amplas, no centro da cidade. Quando vi aquele quadrinho com um poema escrito, fiquei curioso. Por que alguém o colocaria ali, emoldurado? E por que esse e não tantos outros do Fernando Pessoa? Ou do Drummond? Ou do Bandeira?

O tempo passou, li mais Fernando Pessoa e este poema sempre me vem à mão. Hoje o entendo melhor, o sinto melhor. Os que me lerem aqui poderão entender do que eu falo, se já se sentiram como no poema. Alguém que tenha fugido para fora da possibilidade do soco. Outros que me lerem, talvez como o universitário que visitou o apartamento do professor Milton, provavelmente não irão captar, como eu não captei na época, a garganta travada, o gosto na boca, o sangue a premer as artérias. Terão antes que ter levado porrada.

Poema em Linha Reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,

Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,

Indesculpavelmente sujo.

Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,

Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,

Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,

Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,

Que tenho sofrido enxovalhos e calado,

Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;

Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,

Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,

Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,

Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado

Para fora da possibilidade do soco;

Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,

Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo

Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,

Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida…

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana

Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;

Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!

Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó principes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!

Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,

Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!

E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,

Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?

Eu, que venho sido vil, literalmente vil,

Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

sábado, novembro 17, 2007

Sábado

Saca

Se

Saio-me

Suficientemente

Sucinto:

Somente Saio Sábado

Se Soluciono Segredos

Sensações, Sentimentos.

Só Se Souber Subir Sacadas.

Só Se Sentir Saudades.

Só Se Ser

O Céu.

sexta-feira, novembro 02, 2007

Jaz

Tem coisas complicadas de entender. Física Quântica, letra de médico, cabeça de mulher. Mas tem outras mais complicadas ainda. Viver. Vai entender! Viver é complicado, demanda negociação, necessita de estômago, carece de paciência. Mas tem hora que é difícil mesmo.

Neste Finados, uma foto na web traduz bem isso. Uma pessoa mandou colocar um epitáfio em seu túmulo dizendo: Aqui jaz um homem que morreu de saco cheio. Quando li, fiquei imaginando sua decepção com a oportunidade que lhe foi dada. Tudo deve ter dado ao contrário do que ele imaginava. Queria ter ido por um caminho, mas os ventos, as forças incontroláveis o levaram para outro. Queria ter vivido de um jeito, mas viveu de outro. Queria ter dormido com Marina, mas acabou com Dorvalina. Queria ter sido ourives, mas foi ser funcionário público. Será que foi assim? O que teria lhe deixado de saco cheio? O que lhe enchia o saco? O que nos enche o saco?

Viver de saco cheio não é bom. Morrer deve ser pior.

sábado, setembro 15, 2007

Audaz e Preto Comedor de Asfalto Preto

Outro dia foi aniversário do Tribuna. Gregário que é, ele chamou alguns seletos amigos para um bar. Depois continuamos a conversar. E conversar e conversar. Tanto que fomos expulsos do bar, pois os funcionários e o gerente queriam ir dormir. Acabamos indo para outro. E conversamos. Falei sobre escrever com o Júnior. E acabei me lembrando de um texto que escrevi em Julho de 2000, que resolvi publicar aqui. É um texto que fala muito, que conversa, que fala de conversa. É um texto feito sob inspiração de uma música de Fernando Brant e Toninho Horta, “Manuel, o Audaz”. E essa coisa de conversar é que me motivou a escrever isso aqui. E quem sabe, pode motivar mais alguém também. Tá aí.


Audaz e Preto Comedor de Asfalto Preto


Se fôssemos o Fernando Brant e o Toninho Horta, talvez o chamaríamos de Manuel, o Audaz. Mas perto da música que eles faziam, não éramos ninguém. Audazes éramos nós.

Não era um Jipe que rasgava as estradas de terra, pelos cerrados. Era apenas um Chevette preto. Potente, sim. Mas um Chevette. Preto. Comparado aos carros de mil cilindradas de hoje, com a sua tecnologia avançada, aquele era um dinossauro. Está certo. Tudo bem. Um Velociraptor. Mas era um dinossauro. Não estava extinto, mas em breve seria. Grunhia toda vez que o Júnior lhe premia o acelerador. Grunhia, mas respondia com sua potência e sua raiva, como se em suas entranhas de aço só houvesse lembranças que lhe atacassem a alma. Sua alma de alguns cilíndricos cúbicos urrava toda vez que tentávamos uma conversa amigável com ele. Júnior conversava diretamente com ele, passava a mão em sua cabeça, lhe dizia palavras de conforto, mas mesmo assim, ele não ouvia. Insistia em nos levar para o mau caminho. O tapete preto de asfalto que lhe aparecia à frente era o convite. Um convite que lhe era insaciável. A noite preta, a noite fria não era nada perto daquela superfície. A textura, a microvilosidade, a composição de pedras britadas com o betume, com o resto do sangue dos dinossauros, lhe traziam sensações, vibrações em seus cilindros que na hora não captávamos. Só depois é que o compreendíamos.

Um dia, o Júnior disse que iria lhe tirar alguma peça, um parafuso ou sei lá o que do escapamento. Uma peça que de certa forma deixava o barulho do motor mais, digamos assim, civilizado. Civilização era o que não queríamos naquela hora. Então era uma ótima idéia. Sem civilidade, enfim, fomos nós. Comendo o tapete preto do asfalto. As pessoas na rua nos olhavam com censura, e era isso que nós adorávamos. O ruído do motor do Chevette entrava pelo compartimento interno, no habitáculo, de tal forma que quase não podíamos conversar. Mas para que queríamos conversar!... Eu e o Júnior não conversávamos naquela hora, até por que ele dirigia. E eu, de certa forma, conversava com o Chevette. Escutava suas palavras, seus gritos. Entendia seu ponto de vista. Seus faróis iluminando e embranquecendo o preto do asfalto era como uma tela de cinema, a refletir a projeção de um filme já visto. John Lennon cantava no toca-fitas e sua voz falava de um herói da classe operária. Lembrei-me por um átimo dos homens que construíram aquele tapete. E assim, por um átimo, deles me esqueci. Tentei me imaginar vinte anos à frente daquele tempo. Não vi ninguém. Não consegui ver um homem de poucos cabelos, fios brancos na barba, pele flácida na face. Não consegui enxergar o homem que estaria relembrando aquele mesmo momento. Nada vi naquele momento além do tapete preto a ser engolido pelo “Audaz e Preto Comedor de Asfalto Preto”.

Talvez uns vinte anos depois deste tempo, não sei se passaram tantos anos, ou talvez nem isso, me lembro hoje daquele carro, daquela máquina. Máquina que moveu nossos corpos e, claro, muito mais que isso, moveu nossos corações, nossas almas para frente, como era a única coisa que ele podia realmente fazer. Lembrei-me assim de sua audácia em nos levar à frente de nossas miúdas concepções de nossas vidas. Lembrei-me de sua audácia em nos mostrar que não éramos ninguém, que não viríamos a ser ninguém. Hoje vejo sua audácia de nos mostrar que ser ninguém é ser muito mais que qualquer um gostaria de ser. Aqueles momentos olhando para o preto tapete de asfalto, iluminados pelos faróis sábios do Chevette preto nos deram a visão do que poderíamos encontrar pela frente.

E se hoje eu já nem sei o meu nome, se eu já não sei parar e olhar para frente, mesmo assim eu sei olhar para trás. Vejo o Chevette preto. Seria um Audaz, talvez. Vejo tapetes pretos rolando por baixo de mim. Vejo-o comendo luzes refletidas sobre britas pretas, sobre faixas reflexivas. Vejo o céu preto com pontos reflexivos. Vejo ao lado da nossa viagem o escuro do mato não iluminado.

Não me lembro se o Júnior lhe chamava de um nome próprio. Apenas me lembro que quase como o Manuel, o Chevette preto para mim era o Audaz. E olho para minhas mãos e ainda vejo as marcas escuras de graxa que aquelas peças do escapamento deixavam toda vez que provocávamos o bicho.


sexta-feira, setembro 07, 2007

Luciano Pavarotti

Alguém que carregue uma palavra italiana no nome não pode dizer que nunca tenha se emocionado com uma ópera. Ver uma no Scala de Milão é assunto para apenas alguns privilegiados, mas escutar, via um CD ou então pelo rádio, como antigamente, é algo que não se esquece. Meu pai contava que escutava pelo rádio um tenor chamado Caruso, e que ele era o melhor. Pavarotti concordava com meu pai, mas dizia que tinha feito mais sucesso, tinha ganho mais grana e notoriedade por ter tido mais sorte, pois viveu na época da televisão e da globalização. Talvez por isso eu tenha entrado em contato com a ópera pelas mãos dele. Ou melhor, pela voz dele.

E logo que escutei, me apaixonei. E logo tratei de adquirir um CD do tenor. Foi um dos meus primeiros CDs, numa época que eles ainda eram novidade e estavam começando a substituir os “bolachões” de vinil. Eu o colocava pra rodar e já ia me emocionando. E hoje ainda é assim e sempre será. Pra completar, a memória do meu pai sempre me vem, principalmente quando ouço Vesti la giubba, da ópera Il Pagliacci, de Leoncavallo (veja o vídeo). “Seu” Adelmo sempre arriscava seu italiano pra cantar essa ária e aqueles momentos em que eu escutava ficarão pra sempre nos meus ouvidos.

Alguns puristas da ópera sempre torceram o nariz para o Pavarotti. Diziam mil coisas que não vou escrever aqui. Porque agora queria apenas agradecer a ele por ter me apresentado a esta arte. Pavarotti materializou para mim aquilo que meu pai tanto dizia que era uma maravilha da música. Mas que eu não tinha maturidade suficiente para perceber isso. Hoje meu filho não quer saber de ouvir ópera, mas talvez um dia ele ouça falar de Pavarotti como eu ouvi de Caruso. A fila anda.


sexta-feira, agosto 31, 2007

Feriado

Eu me lembro que em Uberlândia, quando eu era criança, havia desfiles de escolas e militares na avenida principal da cidade nos feriados. Dois feriados bem pertos. O 7 de Setembro e o aniversário da cidade, uma semana antes. Havia desfile nos dois. O de 7 de Setembro era mais rigoroso. Os militares, que exerciam sua ditadura horrorosa sobre o País, mostravam todo o seu poder e sua soberba. Desfilavam batendo forte seus coturnos no asfalto da Av. Afonso Pena. Passavam em frente ao Bar da Mineira, ao Cine Avenida, à Panificadora Pão de Açúcar, à Discolândia. Deixavam claro quem mandava. Eu ficava ali, no meio da multidão, olhando por entre as pessoas, segurando em uma grossa corda de sisal. Eu não imaginava que nos porões da ditadura, pessoas com os mesmo ideais do meu irmão, que havia falecido há poucos anos, estavam sendo subjugadas e torturadas. Eu não sabia de nada.

Mas o feriado do aniversário da cidade era menos formal, sem a característica militar. Eram apenas as escolas que desfilavam. Minha casa ficava numa rua paralela à Afonso Pena, há apenas três quadras. Nela tinha a escola que eu estudava, o Externato Rio Branco. Nos encontrávamos na porta, para irmos todos os alunos juntos, à pé, para a avenida. Quase em frente à minha escola, tinha a casa das irmãs Assis, solteironas donas de um colégio particular, o Kennedy. Era lá que também se reuniam os alunos dele. O Kennedy tinha fanfarra e meu primo Tonho, irmão mais velho do Júnior, tocava bumbo, daqueles bem grandes. Todos nós queríamos tocar também, mas eles eram imensos. Invariavelmente, ele tocava com tanta força que no final do desfile estava lá o Tonho, desfilando com as baquetas sem função, pois havia arrebentado as duas peles que cobriam o bumbo. Eu e o Júnior adorávamos aquilo e comentávamos a força do Tonho.

Tenho uma foto minha desfilando. Me lembro que eu estava no pré-primário, com seis anos. Uma vizinha minha, amiga da família, a Sueli Rosa, estava na segunda série. Eu era imenso de grande para a idade e ela muito pequena. Tão pequena que tinha o apelido de “Grilo”. Colocaram ela na turma do pré-primário e eu na turma do segundo ano. Ela ficou “mordida” de raiva e até hoje se lembra disso.

Normalmente, depois dos desfiles que acabavam tarde, íamos pra casa, minha mãe fazia macarrão, e almoçávamos com acompanhamento de Q-Suco de uva ou framboesa. Meu pai ia cochilar e eu me lembro claramente a forma como ele fazia isso. Deitava na cama, sem tirar os sapatos lustrados, colocava uma perna esticada sobre a outra, um braço sobre o peito e outro dobrado por sobre os olhos. Vejo isso claramente, até hoje.

Eu poderia aqui citar quase uma dezena de lembranças destas datas. Todas elas contribuíram para a formação do meu caráter, desse meu jeito de ser. Lembranças que me fazem o Paulo Duarte e me mantém o mesmo menino grande, cabeçudo e desengonçado que ficava olhando calado para aquelas pessoas passarem perfiladas pelos meus olhos, mesmo sem saber ao certo qual a razão delas fazerem aquilo.

quarta-feira, agosto 15, 2007

Paraíso Que Preciso

Solitária Lua

Reflexivamente nua

Chapa a luz pela janela

Reduz os olhos dela

A gotas gordas de mel

Que toda vez preciso


Janelas d’alma

Barcas de calma

A tranqüilizar este coração

Céu e som

Perfeito diapasão

Mel e bom

Se insinua assim

Bem pertinho

De mim

Por entre o véu

Do céu

Do paraíso

domingo, julho 29, 2007

O mar

Fuçando no Youtube acabei encontrando um vídeo que poderia muito bem ser oficial do Pearl Jam. Provavelmente o Eddie Vedder nunca o viu. Mas é de uma poesia que casa perfeitamente com a música. Descobri que foi filmado numa praia de Portugal por um cara, provavelmente um poeta, de pseudônimo Lobístico.

Gosto muito de água. Gosto do mar. Quando estou no litoral, me sinto bem, em paz, como se houvesse voltado ao líquido amniótico da minha mãe. De certa forma, é uma volta mesmo, já que o Homem veio do mar. Se pudesse, moraria, pelo menos parte do ano, à beira mar. Realmente não sei explicar como me sinto bem numa praia, com o mar a me lamber, sentindo o cheiro, respirando sal, olhando para o horizonte verde-azul-azul-verde. Gosto de ficar observando os elementos que pertencem ao ambiente do mar. Pessoas que caminham, cachorros que brincam, ondas que se quebram, o ar enevoado pela maresia.

Tem uma hora do dia, à beira mar, que gosto muito. É quando anoitece. Sinto algo inexplicável. Entro no mar mais uma vez, sem enxergar ao certo as ondas, meio temeroso, mas confiante que ele me tratará bem. Depois, saio, olho para o céu, que ainda tem claridade. Olho bem fundo nele. Sinto minha alma ir ao encontro dele. Já disse isso para algumas pessoas.

Neste vídeo aí tem todos esses elementos que citei. E mais. A música é linda, a letra também. Lobístico que me perdoe, mas eu filmaria a praia, o mar e o céu exatamente como ele fez. Por isso, me sinto co-autor do vídeo.


Um pouco de café

Fui criado entre pessoas que sempre beberam café. A maioria, fumantes. Sou do tempo em que fumar não era crime. Hoje, infelizmente, essa coisa horrível do politicamente correto coloca as pessoas que optaram por fumar no mesmo patamar dos escroques e dos bandidos leves. Mas antes não era assim. Vi muitas vezes meu pai se sentar à mesa com meu tio, filhos de italianos que eram, tomar uma imensa xícara de café e acenderem seus cigarros. Fui muitas vezes comprar para meu pai no bar do Alcides.

Mas o café sempre esteve presente. Na casa da minha avó Hermínia em Batatais, eram feitos bules de café quase que de meia em meia hora. Todos tomavam. Minha mãe, minha tia Deolinda, todas passavam um pouco de manteiga num pedaço de pão, encharcavam-no de café forte e davam para as crianças comerem. Éramos tratados à base de café.

Recentemente fui a Carmo do Paranaíba, bem ao leste do Triângulo Mineiro. Visitei algumas fazendas e as instalações da Veloso, uma empresa que produz cafés para exportação. Lá pude saborear o café que meu pai dizia que nós aqui do Brasil não tomávamos. O café que, ainda em Batatais, quando a cidade ainda era uma grande produtora de café, era enviado para a Europa. Meu pai dizia que o café que tomávamos era palha torrada. Não entendia aquilo. Mas em Carmo, um especialista me explicou sobre isso e pude me lembrar do que meu pai dizia. Uma palha aromática que fazia o café mais cheiroso.

Assim, com as lições aprendidas em Carmo, voltei a experimentar o café com mais atenção. Comecei devagar. Comprei um pó mais forte, mais encorpado, mas ainda daqueles nossos mesmo. Resolvi também comprar uma cafeteira italiana para fazer café na medida, sem sobrar nem faltar. Passei a ler alguma coisa na internet e cada dia mais podemos ver o quanto essa bebida gostosa tem de parecido com o vinho, que também adoro.

Não fumo, mas sempre que despejo o café bem preto e fumegante na xícara, sempre que a aproximo com seu aroma do meu nariz, sempre que experimento o sabor, me lembro do meu pai. Meu pai, que toda a manhã levantava cedo, ia pra cozinha e fazia café coado em um coador de pano que ele mesmo costurava. Ele se sentava numa cadeira e olhava para algo com o olhar longe, talvez buscando lembranças em sua alma. Não sei costurar, não sei fazer o café que ele fazia. Mas ainda quero experimentar o prazer que ele tinha em tomar um bom café.

quinta-feira, julho 26, 2007

Ukulele

Quem conhece meu primo Júnior sabe bem como ele á fã do George Harrison. Para quem não conhece, é um cara que quando o George lançou o LP “All Things Must Pass”, um álbum triplo, ele o comprou, tocou uma vez para gravar e guardou a peça. Isso há séculos atrás. Hoje a “bolacha”, ou melhor, as três, é um conjunto raro, que não muitas pessoas têm.

O Júnior sempre manda umas dicas musicais. Essa aí é mais uma. Mas de um carinha absolutamente desconhecido. Jake. Sei lá das quantas. Ele toca este instrumento aí, parecido com o nosso cavaquinho, mas com um nome estranho: ukulele. George Harrison também tocava e, claro, bem. Mas o Jake não é ruim não...

sábado, julho 21, 2007

Rio

O Rio de Janeiro continua lindo. Sempre foi. Desde bem antes de D. João VI por aqui chegar. Mesmo na primeira metade do século passado, quando as favelas ainda eram lugares apenas bucólicos, o Rio era lindo. Nesta primeira metade deste século, mesmo com toda a violência que acaba com o cotidiano das pessoas, o Rio de Janeiro continua lindo.

Há quem diga que o Rio é lindo só de cima, de avião. Também é. Mas não apenas. Não há como desmentir quando falam que o Rio de Janeiro é a cidade mais bela do mundo. Porque é. E não é só a beleza exposta nos cartazes, nos folders de agências de turismo. Tem uma beleza terrestre, mesmo quando o mar e as montanhas não estão ao alcance dos olhos. Tem uma beleza de pessoas, de corpos, de olhares e sorrisos. Tem uma beleza de esquinas, de botecos e ruas centrais. Tem beleza de cidade.

Um clip do John Legend mostra bem isso. Além das imagens simples, sem arroubos cinematográficos, quase manuais, o vídeo também apresenta dois casais apaixonados circulando por lugares da cidade. Não há Cristo Redentor, não há Pão de Açúcar, não há praia de Copacabana. É claro que escadarias com a bandeira do Brasil, que virou figurinha fácil em vídeos de cantores americanos (Snoop Dogg, por exemplo) aparecem também. É um Rio humano, visto do nível dos olhos. É um sentimento humano dos casais do vídeo que transparece na cidade.

Talvez, olhando bem, não seja apenas o Rio de Janeiro que é bonito. Tem algo mais ali.

Azuis

Os caras estiveram no Brasil recentemente. Eles têm cara de seqüelados. Se pintam de azul. Se olham de modo estranho. Mas fazem um som especial. Os três se revezam em instrumentos um tanto estranhos e inesperados, mas sempre acompanhados de boa música. Blue Man Group tem a característica do impacto, do diferente, do fazer algo que não foi feito. E o novo sempre é sedutor.


sexta-feira, julho 20, 2007

Utilidades

Os meios de comunicação estão sendo revolucionados. Internet, telefones móveis, UMPCs e, claro, o iPhone da Apple. Tem gente que está dizendo que não sabe como viveu até hoje sem um iPhone. Neste vídeo dá pra ver como ele é absolutamente indispensável...

quinta-feira, junho 28, 2007

Stop and Hear the Music

Recebi do meu amigo Júlio Morsoletto um e-mail com o texto a seguir. Ele fala de arte. De poesia. De sentir. De como nascemos poetas, artistas e deixamos isso escapar. De como temos dificuldade de inserir arte no nosso dia a dia, na nossa vida. O que deveria, ou pelo menos, poderia estar integrado na nossa forma de viver, acaba sendo tratado como um produto a ser consumido. Apenas.

Um violinista no metrô...

Numa experiência inédita, Joshua Bell, um dos mais famosos violinistas do Mundo, tocou incógnito durante 45 minutos, numa estação de metrô de Washington, de manhã, na hora do rush, despertando pouca ou nenhuma atenção. A iniciativa foi do jornal "Washington Post", com a idéia de lançar um debate sobre arte, beleza e contextos. Ninguém reparou também que o violinista tocava com um Stradivarius de 1713 - que vale 3,5 milhões de dólares. Três dias antes, Bell tinha tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam 100 dólares. Ali na estação de metrô foi ostensivamente ignorado pela maioria, à exceção das crianças, que, inevitavelmente, paravam para escutar Bell... Segundo o jornal, isto é um sinal de que todos nascemos com poesia e esta é depois, lentamente, sufocada dentro de todos nós. "Foi estranho ser ignorado" disse Bell, que é uma espécie de 'sex symbol' da música clássica, vestido de jeans, t-shirt e boné de basebol, interpretou "Chaconne", de Bach, que é, na sua opinião, "uma das maiores peças musicais de sempre, mas também um dos grandes sucessos da história". Executou ainda "Ave Maria", de Schubert, e "Estrellita", de Manuel Ponce - mas a indiferença foi quase total. Esse fato, aparentemente, não impressionou os usuários do metrô. "Foi uma sensação muito estranha ver que as pessoas me ignoravam", disse Bell, habituado ao aplauso. "Num concerto, fico irritado se alguém tosse ou se um celular toca. Mas no metrô as minhas expectativas diminuíram. Fiquei agradecido pelo mínimo reconhecimento, mesmo um simples olhar", acrescentou. Diretor da National Gallery, não se surpreende: "A arte tem de estar em contexto". E dá um exemplo: "Se tirarmos uma pintura famosa de um museu e a colocarmos num restaurante, ninguém a notará".

Veja o filme. Leia o original no Washington Post.

sábado, junho 23, 2007

Sem título

E paro e penso e falo

Mas não sei se convenço.

Se adoeço e saro,

Não sei se é o começo

Do caro intento de matá-lo

Ou apenas seu prolongamento.

Eu tenho o gosto e o faro;

Não sei a que venho:

Se paro, se penso, se falo.

sexta-feira, junho 15, 2007

City - Jardim Samaúma

No post aí de baixo, havia falado de um casal. É o fotógrafo Beto Oliveira e sua mulher. E mais umas fotos do local. A cidade vai melhorando pelo trabalho de gente assim.





quinta-feira, junho 07, 2007

City

Às vezes corro no bairro City, que algum vereador sem mais nada pra fazer resolveu chamar de Jardim Inconfidência. E por várias destas vezes, vi um casal plantando e regando árvores por ali. Os dois sempre estão por ali, aplicados em uma luta que todos deveriam louvar. Por si mesmos revitalizam uma região rara na cidade. Replantam ao redor de dois córregos, Lagoinha e Mogi, um deles com cachoeiras e pequenas quedas d’água.

Agora, a região vai sendo modificada. Embelezada. Além do trabalho que vi dos dois, o solo vai ganhando um gramado. A impressão é que se formará um parque linear, emprestando a quem passa por ali uma paisagem para se colar nas retinas. Lixo, plásticos, lâmpadas ainda são encontrados nas beiradas dos córregos e junto às ruas. Ainda há pessoas que se dão ao trabalho de saírem de suas casas com caixas de leite vazias, fraldas descartáveis e outros resíduos quaisquer para deixar tudo isso ali. Poderiam empregar esta disposição toda para retirá-los.

Mesmo com estes senões, a região vai ganhando um aspecto mais agradável, digna de um passeio. Digna de servir de ambiente da luta daquele casal.Fotos: Ugo Degani


sexta-feira, junho 01, 2007

Sargento Pimenta

Há quarenta anos não só a música mudava, mas o mundo também. Em 1° de junho de 1967, Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band era lançado. A obra prima dos Beatles que revolucionou o modo de fazer música e até o comportamento dos jovens da época. Além das inovações, tais como uma história condutora no disco, o long play trazia coisas impensáveis para a época. Meu irmão tinha (e tem ainda) um LP, que ouvia sempre numa vitrola. Eu era moleque e tentei traduzir Lucy in The Sky with Diamonds. Mas a letra é doida demais. Acabei traduzindo She’s Leaving Home. Hoje, tenho um CD. Uma obra de arte para se ter em casa. E no coração.

quinta-feira, maio 24, 2007

Prosa e Cinema

Muitas pessoas, mesmo sem deixar comentários aqui, tem me falado que andam gostando dos textos mais, digamos, poéticos aqui apresentados. Então, pra essas pessoas — elas sabem que estou falando delas — deixo aqui uma prosa curta. Quem gosta de cinema, quem já beijou no escurinho de uma sala assim vai gostar. E lanço um desafio: além do filme “Cinema Paradiso”, outro é citado nesta prosa. Qual? Dica: ganhou Oscar de melhor filme.

O Último Cinema do Centro

Já não havia mais cinemas no centro da cidade como há vinte, trinta anos. Restava apenas um, onde antes era o diretório acadêmico de uma faculdade. Local que na verdade trazia outras lembranças, onde geralmente as pessoas se acotovelavam em torno da bilheteria, tentando entrar, como se aquele lugar fosse uma casa mágica, como se o ambiente ali de dentro fosse levar as pessoas para algo melhor. E foi passando em frente a este endereço, a pé, que ele se lembrou de uma sessão de cinema ocorrida há sabe-se lá quantos anos, em outro cinema da cidade, onde agora, fechado por velhas portas pantográficas de ferro, tornara-se o local ideal para os sacos plásticos descansarem da luta contra o vento e dormirem tranqüilos.

Ele até que tentou lembrar-se qual era o filme, quem era o diretor, a música, a luz em movimento. Mas foi em vão. A lembrança pungente era o abraço daquela mulher em sua cintura. Nem o roçar dos corpos das outras pessoas — que estavam também naquela sessão e se espremiam umas nas outras a espera que a chuva torrencial que desabava lá fora ao menos diminuísse —, foi lembrado. A imagem que lhe vinha na mente de forma mais clara eram os pingos da chuva, que apareciam maiores quando passavam bem próximos da luz da lâmpada de vapor de mercúrio. O vento já havia jogado água por todo o vidro temperado que separava a sala de espera da calçada, que deformava ainda mais as pessoas que corriam molhadas na rua, fugindo da água que despencava furiosa do céu, sem se importar onde caía. Começou a se lembrar que o vento trazia para dentro da sala de espera, por uma pequena fresta aberta, o frio de quase início da madrugada. Começou a se lembrar que aquela seria a última sessão de cinema junto com aquela mulher. Mais uma vez tentou se lembrar o nome do filme. Poderia procurá-lo numa locadora e relembrar com mais intensidade os momentos dentro do escuro do cinema. Mas a memória já não era como antes. Nada era como antes.

O filme que lhe passava na cabeça era uma colagem de recortes do tempo que passou junto com ela. Em fragmentos, como pedaços de celulóide, sua memória começou a se mover. Lembrou da personagem daquele cineasta que volta à sua cidade natal na Itália, para o enterro de seu amigo projecionista — interpretado por Philippe Noiret em Cinema Paradiso — e morto sem vê-lo pela última vez. Quando o cineasta, agora famoso, recebe a “herança” do seu amigo, uma caixa de metal e a abre, lá estão todos os beijos dos filmes de sua infância, cenas de amor extirpadas das fitas por imposição da censura da Igreja local da época. No filme, aquele momento era como se uma porta abrisse na memória do cineasta e toda sua infância e convivência com o amigo surgisse na forma de retalhos de celulóide.

E os pedaços de memória, também na forma de retalhos de cenas de amor, de beijos e abraços apaixonados foram surgindo. Com a lembrança de Cinema Paradiso; da música maravilhosa de Ennio Morricone; das lágrimas despejadas na cena da caixa; dos rostos envelhecidos dos antigos habitantes da pequena cidade italiana. Uma “caixa” repleta de pedacinhos de sua vida, de uma parte dela, se abriu. Começou a se lembrar de seus sonhos, de sua energia inabalável. Foram surgindo na lembrança os momentos de dificuldade e fracassos que tão bem eram superados a dois. A crença — que beirava o fanatismo — de que era capaz de mudar o mundo. A férrea certeza de que aquela mulher seria a última de sua vida. E lembrou também como a perdeu. A cena, quase uma tomada cinematográfica, em plano americano: o sol de final de tarde por trás dos cabelos tornavam imperceptíveis os traços do rosto dela. A cidade se movimentando num pano de fundo nervoso e sem rumo, com as pessoas pedindo licença, ou não, tocando e empurrando em busca de espaço para justificar sua pressa. Não conseguia enxergar nesta cena as feições daquela mulher. Não sabia mais se aquela era a cena real acontecida, que agora lembrava. E nela também não via os traços da boca, dos olhos, das maçãs do rosto. Poderia ser mais uma trapaça de sua memória que lhe retirava uma breve e rara oportunidade de voltar a ver aquele rosto. Não conseguia vislumbrar a face, apenas a dor daquele momento. Uma cena desprovida de música, sem Morricone, sem a maestria dos cineastas de antigamente, sem uma fotografia que enchesse a tela de emoção em forma de luz. Era a cena final do seu filme. Não haveriam os créditos subindo, as luzes da sala se acendendo, as pessoas se movimentando para sair, enxugando os olhos. Uma parte de sua vida nem em luz em movimento se transformou.

A cena ruim e sem poesia ainda está na sua mente, confundiu-se com a visão dos cartazes dos filmes que estavam anunciados e quase sem perceber, um turbilhão de pessoas começa a passar por ele tocando-o, quase empurrando-o para fora do caminho dos que tem pressa. Em poucos instantes as pessoas que estavam naquela sessão de cinema se foram para suas vidas.

Um vento frio de quase início de madrugada já soprava cortando sua face e desalinhando os poucos cabelos finos e trazia, em movimentos de rara beleza, um saco plástico de supermercado, que aos poucos foi procurando um lugar mais calmo, ali, bem próximo à entrada daquele último cinema.

segunda-feira, abril 16, 2007

Dias

Antes que as tardes venham anoitecer

Mesmo que os dias possam perecer

Retornam as estrelas no céu

As constelações ao Sul


Últimas mensagens do Universo

Caindo feito gotas em nós

Luzes brilhando em pontinhos

Iguais às lágrimas das mães

Ao se despedirem dos filhos

domingo, abril 15, 2007

Amanhã

Não há quem não tenha a curiosidade de saber como será amanhã. Tudo vem mudando tão rapidamente que qualquer previsão pode cair no ridículo tão rapidamente quanto. Mas a Intel fez um vídeo em que nos dá uma idéia possível da interação das informações. Os UMPCs, que seriam PCs de uma portabilidade tal que fariam os relógios de pulso se tornarem anacrônicos (Talvez já sejam hoje...). Interessante olhar e ver como poderia ser (clique e veja).

sábado, abril 07, 2007

Celeste

Dias passam em seqüência

Sem que o Sol se canse

Na sua clara essência

De buscar a sua chance


E a Lua no céu clareia

Seu próprio caminho no chão

Pr’aquilo que ela anseia


E se olham e se buscam

E se ligam e se tocam

Giram em elipses

Clamam por eclipses

Um quantum de luz

Mais que seduz

Explode em paixão

À palma da mão


E no amanhecer e no poente

Se vêem distantes

E a Lua sabe o que o Sol sente

Em todos os instantes


E o Sol no céu sozinho

Conduz seu próprio corpo

Pr’aquele que é seu caminho


Noite e dia, dia pós noite

Lua e Sol em comunhão

Separados por um açoite

Mas juntos, num só coração

domingo, março 25, 2007

Magic Numbers


Alguns dos que lêem este blog talvez não tenham nem idéia de quem foram “The Mammas and the Pappas”. Tudo bem. Eu também não convivi com eles, mas tenho alguma idéia. Era um grupo dos anos 60. Dois caras e duas meninas (sim, elas foram meninas naquela época...). Faziam uma música gostosa, que embalou a geração hippie. Coisas como California dreamin’, Monday, monday, Do you wanna dance e outras pérolas. Acho que todos já se foram, mas sua música ainda pode ser encontrada, pelo menos na Amazon.com.
Então. De repente, me dou com uma banda que tem dois caras e duas meninas. E um nome curioso: The Magic Numbers. Também como aqueles dos anos 60, os caras barbudos e ... digamos assim, como aqui em Minas, duas meninas “fortinhas”. Gordinhas, vai... Mas com um som muito, interessante... Um pouco de country music, outro tanto de folk, mas muito de anos 60 mesmo.
Dois pares de irmãos compõem a banda. Romeo e Michelle Stodarts e Sean e Angela Gannons. Romeo é o cantor e compositor principal, além de cuidar da guitarra. Sean na batera. Michelle no baixo, keyboards e vocais. Angela fica nos vocais, percussão e aqueles tecladinhos chamados de melódica que, por sopro, emitem um som bem anos 60.
Um som bem interessante, que merece ser escutado com calma, mesmo pra quem nem imagina como foram os anos 60 (clique e veja).