domingo, julho 29, 2007

Um pouco de café

Fui criado entre pessoas que sempre beberam café. A maioria, fumantes. Sou do tempo em que fumar não era crime. Hoje, infelizmente, essa coisa horrível do politicamente correto coloca as pessoas que optaram por fumar no mesmo patamar dos escroques e dos bandidos leves. Mas antes não era assim. Vi muitas vezes meu pai se sentar à mesa com meu tio, filhos de italianos que eram, tomar uma imensa xícara de café e acenderem seus cigarros. Fui muitas vezes comprar para meu pai no bar do Alcides.

Mas o café sempre esteve presente. Na casa da minha avó Hermínia em Batatais, eram feitos bules de café quase que de meia em meia hora. Todos tomavam. Minha mãe, minha tia Deolinda, todas passavam um pouco de manteiga num pedaço de pão, encharcavam-no de café forte e davam para as crianças comerem. Éramos tratados à base de café.

Recentemente fui a Carmo do Paranaíba, bem ao leste do Triângulo Mineiro. Visitei algumas fazendas e as instalações da Veloso, uma empresa que produz cafés para exportação. Lá pude saborear o café que meu pai dizia que nós aqui do Brasil não tomávamos. O café que, ainda em Batatais, quando a cidade ainda era uma grande produtora de café, era enviado para a Europa. Meu pai dizia que o café que tomávamos era palha torrada. Não entendia aquilo. Mas em Carmo, um especialista me explicou sobre isso e pude me lembrar do que meu pai dizia. Uma palha aromática que fazia o café mais cheiroso.

Assim, com as lições aprendidas em Carmo, voltei a experimentar o café com mais atenção. Comecei devagar. Comprei um pó mais forte, mais encorpado, mas ainda daqueles nossos mesmo. Resolvi também comprar uma cafeteira italiana para fazer café na medida, sem sobrar nem faltar. Passei a ler alguma coisa na internet e cada dia mais podemos ver o quanto essa bebida gostosa tem de parecido com o vinho, que também adoro.

Não fumo, mas sempre que despejo o café bem preto e fumegante na xícara, sempre que a aproximo com seu aroma do meu nariz, sempre que experimento o sabor, me lembro do meu pai. Meu pai, que toda a manhã levantava cedo, ia pra cozinha e fazia café coado em um coador de pano que ele mesmo costurava. Ele se sentava numa cadeira e olhava para algo com o olhar longe, talvez buscando lembranças em sua alma. Não sei costurar, não sei fazer o café que ele fazia. Mas ainda quero experimentar o prazer que ele tinha em tomar um bom café.

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