domingo, novembro 28, 2010

Soneto LXII, Cem sonetos de amor

Ai de mim, aí de nós, bem-amada,
Só quisemos apenas amor, amar-nos,
E entre tantas dores se dispôs
Somente a nós dois ser malferidos.

Quisemos o tu e o eu para nós,
O tu do beijo, o eu do pão secreto,
E assim era tudo, eternamente simples,
Até que o ódio entrou pela janela.

Odeiam os que não amaram nosso amor,
Nem outro nenhum amor, desventurados
Como as cadeiras de um salão perdido,

Até que em cinza se enredaram
E o rosto ameaçante que tiveram
Se apagou no crepúsculo apagado.

Pablo Neruda

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