sábado, setembro 27, 2008

Ninguém escapa

João Guimarães Rosa era um mineiro. Não que sejamos melhores, não é isso... Somos apenas mineiros. E já é muito. Além de médico, escrevia coisas lindas, de um jeito — ao mesmo tempo — simples e rebuscado. Dominava a língua portuguesa como poucos o fizeram. Criou personagens que se entranharam na vida do Brasil da mesma forma como a vida deste país se entranhou nos tipos mostrados em suas histórias.

Mas Guimarães Rosa era antes de tudo, João. E João amou e viveu como seu coração o levou. Ou como gostaria de ter sido levado. Não saberemos. E assim, outro dia me dou com este texto que ele escreveu numa carta para sua amada Aracy. Como apaixonado o gênio é um homem comum. Do amor ninguém escapa.

Sinto e tenho a necessidade tremenda de sentir o amor como cousa não humana, super-humana, sublime, acima de tudo merecendo todos os sacrifícios, mesmo os mais inauditos. Sempre precisei disto. Isto ou nada. ‘Ou a perfeição, ou a pândega!’ Não me sastifaria um amor burguês, morno, conformado, dosado, raciocinando sobre conveniências ou inconveniências. Quando conheci você, estava já descrente de encontrar a mulher que seria minha, capaz de sentir como eu e amar assim.

Bogotá, 24/03/1943

Nenhum comentário: