segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Soneto LXXIX

De noite, amada, amarra teu coração ao meu
E que eles no sonho derrotem as trevas
Como um duplo tambor combatendo no bosque
Contra o espesso muro das folhas molhadas.

Noturna travessia, brasa negra do sonho
Interceptando o fio das uvas terrestres
Com a pontualidade de um trem descabelado
Que sombra e pedras frias sem cessar arrancasse.

Por isso, amor, amarra-me ao movimento puro,
Á tenacidade que em teu peito bate
Com as asas de um cisne submergido,

Para que ás perguntas estreladas do céu
Responda nosso sonho com uma só chave,
Com uma só porta fechada pela sombra.

Pablo Neruda, em Cem sonetos de Amor

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