domingo, novembro 06, 2011

Minha mulher

Minha mulher, a solidão,
Consegue que eu não seja triste.
Ah, que bom é ao coração
Ter este bem que não existe!

Recolho a não ouvir ninguém,
Não sofro o insulto de um carinho
E falo alto sem que haja alguém:
Nascem-me os versos do caminhos.

Senhor, se há bem que o céu conceda
Submisso à opressão do Fado,
Dá-me eu ser só – veste de seda -,
E fala só – leque animado.


FernandoPessoa

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