
NO MUNDO DOS BLOGS. Todo mundo está se ligando, se conectando, se blogando. Os sinais de fumaça, os tambores, os pombos-correio, as cartas de papel, os telefonemas. Os blogs. Para começar, para ver como é que fica, vamos falar de tudo...
sábado, maio 31, 2008
Prosas curtas sobre separações – 7

domingo, maio 25, 2008
Por acaso
Cada um que passa em nossa vida,
Passa sozinho…
Porque cada pessoa é única pra nós,
E nenhuma substitui a outra…
Cada um que passa em nossa vida,
Passa sozinho,
Mas não vai só…
Cada um que passa em nossa vida,
Leva um pouco de nós mesmos,
E nos deixa um pouco de si mesmo…
Há os que levam muito,
Mas não há os que não levam nada…
Há os que deixam muito,
Mas não há os que não deixam nada…
Esta é a mais bela realidade da vida.
A prova tremenda da importância de cada um,
É que ninguém se aproxima do outro por acaso...
Antoine de Saint-Exupéry
sábado, maio 24, 2008
quarta-feira, maio 21, 2008
Um ou outro Pablo
Ele nasceu com o nome de Neftalí Ricardo Reyes Basoalto. Era chileno, comunista e adorava as mulheres. Então, era um poeta. Alinhavou as palavras de uma maneira que fazem delas abridoras de coração, iluminadoras de alma. São tantos e tantos poemas que seria covardia escolher apenas um para colocar aqui. Mas resolvi escolher um. Vou postar este aí de baixo, com essas letras e fontes de computador. Mas tenho certeza que um dia escreverei este poema numa folha de papel com a minha letra angulosa, com “S”s com rabichos e “L”s esticados. Usarei uma caneta que esbanje tinta. Talvez um azul royal ou um verde azulado, pra lembrar o mar do Atlântico. Talvez cole uma ou duas fotos em preto e branco. Colocarei uma linda moldura e o fixarei numa boa parede, num lugar em que eu possa passar várias vezes ao dia. Pablo Neruda me ajuda a dizer minhas palavras.
É assim que te quero, amor,
assim, amor, é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas
os cabelos e como a tua boca sorri,
ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras,
é assim que te quero, amada,
Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei, nem donde
vem nem para onde vai,
apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,
espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz e sombra és.
Chegastes à minha vida com o que trazias,
feita de luz e pão e sombra, eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi, que o leiam aqui
e retrocedam hoje porque é cedo
para tais argumentos.
Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha
que há-de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nossos lábios,
como um beijo caído das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura
de um amor verdadeiro.
domingo, maio 04, 2008
Todas as estrelas
Nando Reis já os citou numa música que ficou linda na voz de Cássia Eller, o que é quase um pleonasmo. Qualquer música ficava bonita em sua voz. Mas eles estiveram presentes também em meus pés. Os primeiros foram suados. Só depois de muita ralação, de muito trabalho e economias feitas com muito sacrifício pude comprar um par. Eram meu sonho de consumo.
Tive outros que me acompanharam em momentos importantes e mantenho agora um par que estava esquecido no fundo do armário. Nem me lembro mais quando e de que forma eles vieram pra mim. Só sei que de repente, como se por um chamado, me lembrei deles. Eles estavam lá, já puídos, com partes estragadas pelo uso e pelo tempo. Já não são mais os mesmos, mas sempre terão a aura que só quem já usou sabe. Só quem já teve um All Star de cano longo sabe a sensação.
quinta-feira, maio 01, 2008
Se é
Se é que é amor
Não há que ter pudor.
Há que se olhar nos olhos
Com a alma limpa e nua,
Tocar os cabelos, a Lua,
Sentir o gosto da estrela louca
No vermelho do céu da boca.
Se é que é amor
Não há que ter temor.
Há que se viver o dia
Como se último dia fosse.
E se vier o fim,
Fim e fim, acabou-se.
Mas se é que é amor
Não há que se tirar nem pôr.
Há que ser assim
Do começo ao fim.
Enorme penhasco
Visto de baixo,
Suave paisagem
Vista do alto.
E daí, por um salto
Sentir o céu, o vento
A fazer do corpo um véu
Até que venha o chão
Duro, firme, real,
Como dor de coração.
sexta-feira, abril 25, 2008
Prosas curtas sobre separações – 6
domingo, abril 13, 2008
Branca
A luz branca da luminária
Infesta o negro do quarto
E salta aos olhos,
Como num trampolim,
Pela folha em branco de papel
Do começo até seu fim.
E assim,
O rastro negro do grafite
Num relance, por um palpite,
Se aproxima do alcance
Da folha em branco de papel
E dos olhos salta o céu,
a alma, a falta, a calma,
Se espalhando
Como um querubim
Pela folha em branco de papel
Do começo até seu fim.
domingo, abril 06, 2008
Sem título
O tempo vem e alerta
Pela crueza de sua ótica
Sobre a possibilidade aberta
E absolutamente certa
Clara e iminente quebra
Da ducentésima quinta vértebra
Da espinha dorsal da estrutura
Que teimosamente atura
Agüenta, chora, ri e celebra
Impiedosamente a carótida
Torna a visão mais cinzenta
Torna a tarde mais cinzenta
Desvia a possibilidade de noite
Faz derrubada a alma
Transfigura a intenção em calma
Desterra a chama e a torna
Morna, inerte, fria
A antidisplasia
sábado, março 29, 2008
O advogado, por Marcelo Spini
Temos um amigo advogado. Tem voz de advogado. Tem jeito de advogado. Conheço-o desde os tempos de colegial e meu pai conhecia o pai dele. Eu mesmo tenho algumas histórias que, de certa forma, têm o pai dele dentro delas. Um dia elas podem aparecer por aqui.
Mas o Marcelão resolveu escrever algo sobre um fato ocorrido com este advogado amigo nosso. Era algo pra enviar ao Fantástico, mas acabou ficando guardado
O ADVOGADO !!!!
Neste breve relato, descreverei um fato ocorrido com um grande advogado da cidade de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, distante 550 quilômetros da capital, Belo Horizonte. Por se tratar de um grande advogado que representa várias grandes instituições, não mencionarei os seu nome.
Após ser informado que teria que fazer uma defesa oral de uma grande causa
O vôo estava marcado para sete da manhã. Mineiro que é, chegou faltando dez para as seis, tentando não ter nenhum problema no check in. Acomodou-se e mergulhou na leitura. Pensando ter passado alguns minutos, olhou as horas, foi um espanto. 7h20min! Juntou todos os documentos, levantou-se desesperado e foi perguntar sobre o vôo. Recebeu a triste notícia: mesmo estando o Brasil passando por uma crise aérea, aquele bendito (ou maldito) vôo saiu no horário.
Desesperado, disparou um plano “B”. Tinha que conseguir chegar
A aeronave era pequena e agora com este novo passageiro, estava lotada. Piloto e mais sete passageiros. Como sempre nesses ambientes, apenas uma mulher. O vôo partiu sem problemas aparentes, mas um fato iria fazer com esta viagem fosse marcada de maneira ímpar.
Após alguns minutos de viagem, o Dr. começou a sentir algumas cólicas, que o fez suar frio lembrando da feijoada que havia comido no dia anterior. Num espaço tão pequeno não era possível soltar um punzinho distraído, pois todos iam notar e não teria como culpar ninguém. E aquele advogado continuou ali firme. Cada minuto que passava a situação piorava, cólicas, gases, barulhos estranhos. Enquanto todos riam, ele ficava cada vez mais sério.
Passado mais alguns minutos o piloto informou que estavam chegando ao destino, mas o Dr. já não suportava mais. Após uma rápida explicação da situação perguntou onde era o banheiro. Após algumas risadas foi informado que estava sentando no banheiro. Não havia outra saída. Como retornaria da viagem no mesmo dia, não havia levado outro terno, tinha que resolver a situação ali e agora. Após algumas desculpas desenxabidas, levantou a tampa de seu acento, desabotoou o cinto, abaixou parcialmente as calças, pois no recinto havia uma mulher. Enfim, pôs fim ao seu sofrimento. Neste momento se ouvia apenas o som do motor do avião. A cena era desoladora. No entanto, mesmo ali ele tentava manter a pose. O aroma nada agradável dentro da aeronave fez com que todos os passageiros e piloto ficassem sem respirar por vários minutos. Ele queria parar de suar, mas após resolver uma parte desta situação, lembrou que não havia visto uma ducha higiênica ou papel. Então resolveu ficar ali até o pouso da aeronave, que deve ter demorado varias décadas. Após o pouso, ele se manteve ali impávido. Se despediu de um por um, até que todos desembarcaram e ele pôde falar com o piloto, fazer a higiene e descer do avião para uma missão que agora parecia tomar pirulito de criança.
E esqueceria, se o Marcelão não escrevesse esse texto e eu não o publicasse aqui nesse blog.
sábado, março 22, 2008
Hallelujah
Jeff Buckley morreu em 1997 com uma carreira ainda por fazer. Foi nadar num afluente do Mississipi e enquanto um amigo o escutava cantarolando “Whole Lotta Love”, algo aconteceu e seu corpo só foi encontrado uma semana depois, bem longe do local. Quem escutar sua voz estará irremediavelmente ligada a ela. Não dá pra esquecer. Buckley interpretou uma música de Leonard Cohen que acabou virando uma lenda. Um hino. Já a escutei por pessoas que nem imaginava que gostavam dela. É música de se ouvir de olhos fechados. Como num dia de hoje.
Hallelujah, com Jeff Buckley
(Leonard Cohen)
I've heard there was a secret chord
that David played and it pleased the lord
but you don't really care for music do you?
Well it goes like this the fourth, the fifth
the minor fall and the major lift
the baffled king composing hallelujah
Hallelujah, hallelujah, hallelujah, hallelujah
Well your faith was strong but you needed proof
you saw her bathing on the roof
her beauty and the moonlight overthrew you
she tied you to her kitchen chair
she broke your throne and she cut your hair
and from your lips she drew the hallelujah.
Hallelujah, hallelujah, hallelujah, hallelujah
Baby I've been here before
I've seen this room and I've walked this floor
You know, I used to live alone before I knew you
And I've seen your flag on the marble arch
and love is not a victory march
it's a cold and it's a broken hallelujah
Hallelujah, hallelujah, hallelujah, hallelujah
Well there was a time when you let me know
what's really going on below
but now you never show that to me do you?
but remember when I moved in you
and the holy dove was moving too
and every breath we drew was hallelujah
Hallelujah, hallelujah, hallelujah, hallelujah
Well maybe there's a God above
but all I've ever learned from love
was how to shoot somebody who outdrew you
And it's not a cry that you hear at night
it's not somebody who've seen the light
it's a cold and it's a broken hallelujah
Hallelujah, hallelujah, hallelujah, hallelujah
Hallelujah, hallelujah, hallelujah, hallelujah
Hallelujah, hallelujah, hallelujah, hallelujah
Hallelujah
Prosas curtas sobre separações – 5
sexta-feira, março 21, 2008
Sem título
Se de repente
Pinta um sim,
Pinta um Chaplin
A nanquim
No caderno de latim,
Que não existe mais.
quinta-feira, março 20, 2008
Nua e crua
Pura pureza
Bela beleza
Feia feiúra.
Paúra
De olhar para a vida
E ver
A nua e pura
Feiúra
Da beleza.
Crueza
Do corpo estendido no plano
Na mesa
E os pêlos
Pretos
Proeminentes
Distantes
Vibrantes
Absolutamente
Cativantes
Pelos perfumes dos órgãos
Que brotam dos grãos
Apaixonados pelas mãos
Donas dos nãos
Donas dos sins
Dos dedos trêmulos
Dedos afins
Êmbolo
De acesso ao fim.
sábado, março 15, 2008
Arte
Já há muito tempo que o cara se dedica à arte e toda vez que nos encontramos para uma cerveja é ele quem cuida da carne. Já evoluiu de tal forma que consegue tomar conta de tudo sem fazer aquela bagunça que a gente sempre faz num churrasco. E o Marcelão já ultrapassou a barreira que separa aqueles que apenas gostam de fazer daqueles que fazem porque gostam. Aí então, uma carne “assim nem tanto” fica maravilhosa sob sua condução. O que dizer então de uma picanha maturada no limiar do estado de mal passada? A seguir, uma obra de arte com a assinatura de Marcelo Spini.
domingo, março 09, 2008
Alguns amigos
Encontrar com amigos é uma delícia! De certa forma, nos renovamos um pouquinho quando encontramos aqueles que nos viram ainda jovens. Buscamos memórias, contamos “causos”. A cerveja que embala esse encontros parece conter também um certo elixir da juventude. Como se recuperássemos algum tempo, se não alguns meses, pelo menos alguns momentos trazemos de volta.
Na casa do Merola, em homenagem à Cláudia, muitos daqueles de antigamente estavam lá. E sempre sai uma ou outra história. O Tribuna me autorizou a publicar uma determinada história aqui no blog, mas farei isso numa outra oportunidade. Mas publico uma outra dele, acontecida nos tempos em que tudo era muito simples. De uma simplicidade que nos faziam felizes.
A Pipoca, o Tribuna e o picolezeiro
Sempre se diz que quando se conta um conto se aumenta um ponto. Neste caso, acho que acrescento o milésimo primeiro, tantas vezes ele foi contado. Várias versões correm por aí e esta é apenas mais uma; e claro, não é a verdadeira, principalmente porque eu não estava lá. E mais, se estivesse, teria colocado meu ponto também. Mas vá lá. O que importa não é como aconteceu. A importância está em lembrar, escrever, lembrar, reviver, lembrar.
Ele transformou-se num respeitado advogado, eficiente em suas causas e referência para seus colegas. Mas para os amigos de antigamente era e continua sendo o Tribuna – certa vez no cursinho pré-vestibular, já sem paciência de tanto escutá-lo conversando na sala de aula, o professor disparou: “Pô! Você não pára de falar! Tá achando que está numa tribuna?”. Foi o suficiente.
Mas naquela época ele apenas pensava em se tornar um advogado. Ou não. Tinha acabado de fazer o NPOR e as doutrinas do Exército Brasileiro ainda pairavam sobre sua cabeça. Naquela tarde, ia para um compromisso, um estágio ou algo que necessitasse o uso de mangas compridas num calor de cerrado. Mas o Kenner e o Júnior não tinham um compromisso tão sério. O único objetivo naquele dia era fazer aquele automóvel que eles tinham em sociedade funcionar. Era um exemplar hoje raro de uma camionete Ford V8, nas cores branca e verde claro, do início dos anos 60, daquelas que se trabalha dentro do capô. Lataria dura como a vida. Comprada com suas economias, (toca fitas Mecca, conhecido como comedor de fita) sempre recebia todas as atenções da dupla. Eles nunca haviam fumado. Não haviam se encontrado com Bob Dylan, gostavam mesmo era de mecânica e cerveja. A camionete até nome tinha: Pipoca era como uma namorada dividida por dois primos. As câmaras de ar saiam dos pneus, como que pedissem liberdade. Óleo pingava por onde ela parasse. Desnecessário dizer que foi comprada por preço baixo porque quase nada nela funcionava. Mas quando funcionava, o seu ruído era um espetáculo à parte. Todos na rua olhavam para seus ocupantes: Kenner e Júnior, mais algum exultante convidado. Naquele dia, a Pipoca até que estava funcionando, com apenas um detalhe: quando em movimento, não podia ser parada porque seu motor apagaria e nova jornada capô a dentro deveria ser implementada. Foi quando Tribuna chegou ali na Princesa Isabel e perguntou se não podia ganhar uma carona. Estava indo para seu estágio num escritório de advocacia e chegar lá sem nenhuma mancha de suor na camisa de mangas compridas não seria nada mal. Kenner estava mergulhado dentro do motor da "poderosa" tentando destravar as marchas. Os dois "mecânicos" disseram que tudo bem. Podia. Mas não ia dar para parar porque senão a máquina apagaria e o trabalho deveria ser feito novamente.
— O que que é isso? Vocês estão pensando o que? bradou um exaltado Tribuna.
— O cara ficou bravo com a gente... pensou um dos dois.
— Vocês esqueceram que eu sou Tenente da reserva? No Exército fiz várias operações que a gente saltava de um caminhão em movimento. É simples. Na hora de descer, eu abro a porta e salto. Vai ser mole!
Os dois olharam um para a cara do outro, nenhum tinha feito serviço militar, não sabiam o que era saltar de um caminhão verde oliva em movimento, com arma e mochila, mas se ele estava dizendo que era mole, era mole. Vamos lá. Feita a trabalheira de ligar e manter em funcionamento a geringonça estavam lá o Kenner na direção, o Júnior no meio e o Tribuna na janela. Para fora dela o cotovelo embrulhado numa camisa de mangas compridas, calças pretas compondo um figurino de um cara sério, Tenente da reserva e futuro advogado, num corpo esguio e alto, ainda com os músculos formados pela mãe Pátria. A Pipoca deu uma rateada, cuspiu um pouco de fumaça, mas aquele maravilhoso ruído mais uma vez chamou a atenção de quem estava por ali. Os três saíram orgulhosos, subindo a Princesa Isabel rumo à praça Raul Soares. Alguns malabarismos do então futuro piloto de rally e secretário municipal para não atropelar Dona Páscoa, nem bater na primeira esquina foram necessários, mas a máquina ia muito bem. A conversa corria solta, falavam da maravilha que era aquela máquina, de como implementariam melhorias naquela conquista. O mundo era bem mais bonito e pequeno do alto daquela cabine. Enquanto isso o Sol castigava o asfalto da Cipriano Del Fávero.
Logo após passar pela praça Sérgio Pacheco — sob o viaduto que ligava o centro da cidade à avenida Fernando Vilela — Tribuna fala que vai descer. Pedir para diminuir a marcha nem pensar. O cara já tinha saltado de um caminhão com um fuzil FAL carregado! Apertou a mão do Kenner, a do Júnior, agradeceu a carona e ouviu um tímido pedido de cuidado. Combinaram que à noite poderiam ir tomar uma cerveja no Willian. O Kenner prometeu ao Júnior que, se fossem, não usaria nenhum sapato dele (do Júnior!) nem o perfume novo que ele havia ganhado. O Tribuna abriu a pesada porta, pisou naquele largo estribo que só as antigas camionetes tinham, fechou a porta. Mais uma saudação e pulou. Como Kenner não sabia pular de um veículo em movimento, perguntou ao Júnior: “E aí?” Momentos de suspense... “O Tribuna caiu!” disse Júnior. Kenner pensou, o que era pior: se o encavalamento das marchas ou o tombo do dito cujo. Rapidamente olhou pelo retrovisor interno para certificar-se do acontecido. O que viu foi algo rolando pelo asfalto, como se fosse um pacote com camisa de mangas compridas e calças pretas. Claro que tiveram de parar e o motor da Pipoca mais uma vez apagou. Júnior olhou para trás e o Tribuna já havia se levantado e um picolezeiro — que passava pelo local tentando implementar seu negócio — tentava ajudar e pelo gestual do Tribuna parecia que ele falava:
— Não se preocupe! Está tudo bem! Sem problemas! limpando os ombros, as coxas e o orgulho próprio ferido.
Quando os dois chegaram perto viram que uma camisa de mangas compridas a menos existia no mundo e um “causo” a mais surgia para o Kenner e o Júnior, mestres na arte de contar “causos”, espalharem para todos os amigos.
Até hoje, quando um dos dois contam este fato junto a algumas garrafas de cerveja, todos, inclusive o ator principal, choram de rir. Talvez pelo fato de nunca terminarem o caso — impossibilitados pelo riso —, nunca se soube se a Pipoca logo funcionou, se o Tribuna voltou para casa, se compraram um picolé ou se foram à noite tomar algumas cervejas.
quinta-feira, fevereiro 28, 2008
Nada será como antes
Às vezes não nos damos conta de que nada será como antes. Em todos os sentidos. O jeito como levamos a vida muda todo dia e nem percebemos. Ou percebemos, mas pelo susto da constatação ou pela ilusão de que é algo momentâneo, fugimos da realidade. Em todos os sentidos.
Às vezes não nos damos conta, mas se você está lendo isso, você está conectado à internet. Tem feito tanto isso que nem percebe mais. Usa programas, baixa músicas, lê notícias. Visita amigos, joga CS, faz trabalhos da faculdade. Expõe seu CV, lê e-mails, reencontra pessoas. Os hábitos vão mudando e você nem percebe. E é assim mesmo. No final do século IXX o empresário americano Thomas Edison viabilizou algo que mudou radicalmente os hábitos da sociedade da época. A eletricidade entrou nas casas e nas empresas e revolucionou o modo de vida. Mudou a cultura. Há alguns anos a internet vem fazendo isso também agora. Tem gente que ainda não percebeu. Ou percebeu, mas pelo susto da constatação ou pela ilusão de que é algo momentâneo, foge da realidade. Nada será como antes.
E tem pessoas que prevêem muito mais mudanças aí. Um especialista em tecnologia e ex-editor da revista Harvard Business Review chamado Nicholas Carr lançou um livro nos Estados Unidos (The Big Switch: Rewiring the World, from Edison to Google) em que dá sua visão do novo mundo da tecnologia. Ele defende a idéia de que cada vez mais a internet vai se parecer com a eletricidade no final do século IXX. Assim como a eletricidade, vamos nos conectar a uma rede de informações e pagaremos de acordo com o consumo. A idéia dele é que se precisarmos de um programa ou qualquer recurso de tecnologia, usaremos e pronto. Para que estocar? O uso racional dos recursos, tão avançado nos processos produtivos das empresas de ponta e rentáveis chegará aos apetrechos de tecnologia. Tudo o que acontece no nosso computador, desde o processamento ao armazenamento poderia ser feito na internet. O PC passaria a ser apenas o meio de acesso.
Nas empresas o impacto seria monstruoso. Muda toda a forma de agir, de gerir. Já existe um site que fornece serviços de CRM (Customer Relationship Management ou Gestão de Relacionamento com Clientes), com programa totalmente embutido na internet. “Jogando no lixo” os servidores dos clientes, a Salesforce.com faturou 500 milhões de dólares em 2007, com 38 000 clientes.
Às vezes não nos damos conta, mas nada será como antes.