sábado, janeiro 15, 2011

Soneto LXXVII

Hoje é hoje com o peso de todo o tempo ido,
Com as asas de tudo o que será amanhã,
Hoje é o Sul do mar, a velha idade da água
É a composição de um novo dia.

À tua boca elevada à luz ou à lua
Se acresceram as pétalas de um dia consumido,
E ontem vem trotando por sua rua sombria
Pura que recordemos teu rosto que morreu.

Hoje, ontem e amanhã se comem caminhando,
Consumimos um dia como uma vaca ardente.
Nosso gado espera com seus dias contados,

Mas em teu coração pôs sua farinha o tempo,
Meu amor construiu um forno com barro de Temuco:
Tu és o pão de cada dia para minha alma.

Pablo Neruda, Cem sonetos de Amor

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