sexta-feira, outubro 29, 2010

Café com pão

Um dos primeiros contatos que eu tive com a poesia foi através desse poema. Ele fazia parte de algum livro adotado lá no Externato Rio Branco. Me lembro que tinha um desenho de um trem de ferro ao lado das letras. O ritmo das palavras, das sílabas me encantou. O "Café com pão, café com pão" era igualzinho ao barulho que eu ouvia quando embarcava na estação da Mogiana rumo a Ribeirão Preto. Uma criança tinha mesmo que ficar louca com estes sons repetidos em forma de palavras...

Trem de ferro

Café com pão
Café com pão
Café com pão

Virge Maria que foi isso maquinista?

Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
(trem de ferro, trem de ferro)

Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
Da ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô...
(café com pão é muito bom)

Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matar minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...

Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
(trem de ferro, trem de ferro)

Manuel Bandeira

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