segunda-feira, outubro 11, 2010

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos

Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo

Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo

Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...

É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta

E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora.

Vinícius de Moraes

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