quarta-feira, outubro 27, 2010

Canção

Nem tive o trabalho de verificar se já havia postado este poema aqui. Li mais uma vez e mostro pra quem quiser se deliciar com as palavras deliciosas dessa deusa chamada Cecília. Palavras que as vezes parecem ser mais verdadeiras que a própria verdade dos dias e das noites e dos dias novamente.

Canção

Não te fies do tempo nem da eternidade,
que as nuvens me puxam pelos vestidos
que os ventos me arrastam contra o meu desejo!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,

que amanhã morro e não te vejo!
Não demores tão longe, em lugar tão secreto,
nácar de silêncio que o mar comprime,
o lábio, limite do instante absoluto!

Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te escuto!
Aparece-me agora, que ainda reconheço
a anêmona aberta na tua face

e em redor dos muros o vento inimigo…
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te digo…


Cecília Meireles

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